Todo mundo gosta de pizza. Pizza combina com amigos, com festa, com reunião familiar aos domingos. Crianças, adultos e idosos gostam. Empresários, profissionais liberais, catadores de latinha de alumínio adoram. E, claro, aloprados, senadores e deputados: todos adoram pizza.
Essa história se passa, provavelmente, no Egito. Quando? Não se sabe, mas foi há muito, mas muito tempo atrás, cerca de seis mil anos. Ou pouco mais. Ou menos. E pode ter sido em outro lugar, com outros personagens. Mas pode ter sido exatamente assim, quem sabe?
Monifa era um homem sábio. Acordava cedo, de madrugada mesmo, para assar sua mistura de água com uma farinha que ele fazia do trigo, abundante nos arredores. Em seu forno, feito da lama que ele obtinha do Rio Nilo, Monifa assava pequenas bolas de massa, que ainda levavam alguns ingredientes que lhe davam mais sabor e aroma, como azeitonas e ervas diversas. Sua esposa Eshe ficava maravilhada e agradecia diariamente à deusa Ísis pela graça de ter arrumado tão precioso marido.
Certa madrugada, enquanto Monifa concentrava-se em seus afazeres culinários, seu primo Anúbis invade a cozinha e começa a lhe contar uma história assombrosa de como ele havia visto, na tarde anterior, um escravo ser esmagado por uma daquelas enormes pedras que eram obrigados a carregar para construir aqueles estranhos túmulos que os faraós adoravam ser colocados após sua morte “terrena”.
_Pirâmides. – disse Monifa ao primo, sem se desconcentrar do trabalho de misturar a massa, os ingredientes, e colocar tudo no forno para assar.
_Pirâmides? O que é isso, Monifa? – Anúbis era meio desligado do mundo, vivia dizendo que, se fosse com ele, Cleópatra seria a mulher mais feliz do Egito.
_São esses estranhos túmulos que você está dizendo, oras. – Monifa não tinha muita paciência com Anúbis e suas histórias fantásticas. Sem olhar para o primo, continuou a fazer as perfeitas bolas de massa que logo se transformariam nos pães que fariam a alegria de sua amada Eshe, que não demoraria a acordar.
Anúbis percebeu o pouco caso do primo e, para chamar sua atenção, fez algo que revolucionou a gastronomia mundial. Na intenção de demonstrar a Monifa como havia sido horrível o esmagamento do infeliz escravo pelo enorme e pesadíssimo bloco de pedra, Anúbis, num gesto rápido e preciso, juntou as duas mãos, entrelaçou os dedos, fechou-os e deixou-os desabarem sobre uma das bolas de massa que Monifa cuidadosamente fabricava, todas do mesmo tamanho, peso e formato.
Um silêncio emudeceu o ambiente. Monifa olhou para o primo com os olhos ardendo de raiva. Olhou para a massa esmagada sobre a mesa e, para surpresa de Anúbis – que nesta hora estava prevendo uma reação violenta –, passou a esbofetear todas as outras bolas de massa, pulando feito doido e desejando ele mesmo construir uma pirâmide para enterrar sua inconveniente visita. Depois de gritar impropérios contra seu familiar e até a alguns deuses, Monifa, ofegante, olhou para a mesa: mais de uma dezena de bolas amassadas, disformes, chatas. O aroma, entretanto, tomava conta da cozinha. Monifa ajeitou cada disco rapidamente, amassa daqui, achata dali e pronto. Colocou aquilo tudo no forno, expulsou seu primo de casa aos pontapés e acomodou-se ao lado de Eshe, que dormia como um anjo grego. Ou egípcio.
Pouco tempo depois, num sobressalto, Monifa saltou de sua cama ao sentir o cheiro vindo do forno. Despertou a esposa e, pensando rapidamente em como explicar à amada a razão do novo formato de seu pão tão apreciado, saiu-se com essa:
_Eshe, querida, esta noite tive um sonho. Eu estava em nossa cozinha, assando seus pães que você tanto gosta, quando a deusa Ísis apareceu diante de mim. Disse-me para amassá-los e colocá-los para assar daquela maneira, achatados. Disse-me que você iria adorar. Que seria o novo símbolo de nosso amor!
Conhecedor da devoção da esposa por Ísis, Monifa achava que tinha arrumado a desculpa ideal. Caminhou com Eshe até a cozinha, confiante. Abriu o forno, deu uma olhada em seu interior. A fumaça envolvia o casal. O aroma no ar perfumado ficou ainda mais acentuado quando Monifa puxou os discos de massa para fora do forno em brasas. O perfume de oliva agora era quente, convidativo, irresistível. Fechando os olhos, Monifa mordeu um dos discos, ansioso para saber se seus pães achatados continuavam saborosos. Satisfeito, deu mais uma mordida e ofereceu o pedaço fumegante à esposa, intrigada.
Eshe comeu devagar, saboreando cada pedaço daquela novidade. Sob os olhos atentos do marido, lambeu os lábios em busca de uma pequena migalha que caíra de sua boca. Monifa, sem saber, havia acabado de inventar a pizza. Ou ao menos o disco de pizza. Impaciente com a mudez da mulher, Monifa questionou-a sobre o sabor dos novos discos de massa que havia “inventado”. Ele sabia que Eshe tinha adorado, sabia que ela estava surpresa e sabia, mais que tudo, que a deusa Ísis não iria abandoná-lo naquele momento. Sorrindo maliciosamente, Eshe respondeu:
_Está muito gostoso, Monifa querido. Muito saboroso. Uma delícia. Mas ficaria melhor com molho, tomate seco, rúcula e mussarela de búfala! – agora sim, a pizza estava inventada!
Eu adoro saber a origens dos alimentos, suas referências, suas histórias. E adoro também quando não sabemos ao certo qual o local exato, qual o povo que “inventou” determinada iguaria gastronômica. Adoro porque podemos imaginar histórias como essa acima descrita que, fique bem claro, não tem NADA de verídica. Atenção, alunos de gastronomia pelo Brasil: não “copiem e colem” esta história em seus trabalhos acadêmicos, certo? (É, todos sabem que vocês fazem isso...incluindo seu professor!) Mas, já que ninguém sabe ao certo a origem da pizza, eu inventei essa historia e agora, para mim, essa vai ser a história da origem da pizza! Pronto! (Fiquem sossegados: não vou divulgar a história em uma eventual aula de panificação, juro!)
Prato predileto de nossos representantes na capital federal, a pizza é um símbolo italiano, com toda justiça. Se a origem da pizza é uma incógnita, o molho de tomate – sem o qual não existe uma boa pizza – é contribuição dos italianos nas cozinhas pelo mundo. Há quem diga que em São Paulo são degustadas pizzas mais saborosas do que na própria Itália, mas essa é uma daquelas discussões que não tem uma resposta objetiva, muito menos definitiva. Qual a melhor pizza? A melhor pizza é aquela que você gosta mais, e ponto final. E assim é com qualquer alimento, ingrediente, produto. Qual o melhor vinho mundo? É aquele que VOCÊ gosta! Claro que, quanto mais ampliamos nossos conhecimentos, melhor podemos avaliar produtos semelhantes, mas, no final, a satisfação com o sabor é muito pessoal, sempre.
Em comemoração ao dia mais importante do ano que se aproxima – domingo, dia 10 de julho, o dia da pizza e, tudo bem, meu aniversário -, resolvi postar uma receita básica de massa de pizza, para você fazer sua própria “redonda” nas noites de domingo. Faça aquela pizza que você adora, mas ouse também com novos ingredientes. Invente. Arrisque. E devore.
Para fazer a massa da pizza tradicional, você vai precisar de:
· 1kg de trigo
· 1 colher (sopa) rasa de sal
· 2 colheres (sopa) de açúcar
· 50g de manteiga
· 3 ovos
· 2 xícaras (chá) de água
· 30g de fermento biológico fresco
Modo de preparo:
Dissolva o fermento na água morna. Adicione o restante dos ingredientes e amasse bem, até que a massa fique lisa. Divida em 6 bolas. Coloque em uma superfície enfarinhada. Cubra e deixe crescer por 20 minutos. Abra os discos com um rolo. Coloque em fôrma própria. Pincele com uma camada de molho. Leve ao forno, pré-aquecido (190C), para assar por 3 a 5 minutos. Para o preparo de pizza doce, uma boa dica é acrescentar canela em pó.
Para fazer um delicioso molho de tomate para sua “redonda”, você vai usar:
· 1 kg de tomate, concassé (sem pele e sem sementes).
· 5 colheres (sopa) de óleo
· 1 pitada de orégano
· 1 pitada de pimenta do reino branca
· 2 colheres (sopa) de açúcar
· 2 colheres (chá) de sal
Muita atenção ao modo de preparo, muito complexo e de extrema dificuldade:
Bater todos os ingredientes no liquidificador. Espalhe no disco de pizza.
Prontinho! O ideal é fazer os discos de pizza, espalhar um pouco de molho e pré-assar a massa. Se quiser, pode até congelar essa massa pré-assada com molho, bem embrulhada em papel filme, por até 3 meses. Depois coloque os ingredientes escolhidos e aproveite o domingão! Feliz Dia da Pizza para todos!