sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

BRANCA DE NEVE, A LEI DA GRAVIDADE E RAUL SEIXAS

Proibida maliciosamente por Ele de ser saboreada, instrumento de tentação da inescrupulosa serpente, coadjuvante de luxo de Isaac Newton na elaboração da Lei da Gravidade, usada covardemente pela rainha má como arma impregnada de veneno contra a bela e inocente Branca de Neve, emblema da mais cosmopolita e multicultural das cidades do planeta, símbolo de uma empresa que marca uma das grandes mentes que habitaram a Terra entre o final do século XX e início do XXI, visionário do século em que todos nos transformaremos em cinzas, afinal.

Seria ela de um sabor cítrico, porém um pouco adocicada, ou possuidora de uma doçura irresistível combinada com uma perfeita acidez? Seria realmente a co-responsável pela perca da inocência e cúmplice sagaz da tentação ou seria ela mesma a própria inocência, suave, doce, irresistível? Na mitologia céltica, esta fruta simboliza a magia, a imortalidade e o conhecimento. Para os cristãos, é o fruto proibido. Para diversas culturas gastronômicas, é o ingrediente de sobremesas típicas, como o apfelstrudel austríaco (que muitos pensam ser alemão) e a famosa apple pie norte-americana. Bom, a esta altura você já sacou do que estou falando, certo? Claro que estou falando da maçã. 
No longínquo ano de 1666, Sir Isaac Newton (que ainda não era Sir, pois tinha apenas 23 anos), ao descansar sob a sombra de uma macieira, sentido na jovem face a brisa suave e serena dos campos ingleses, viu-se subitamente desperto de seus devaneios ao ser atingido na cabeça por uma maçã. Newton prontamente concluiu que havia uma força que puxava os corpos para baixo. Chegou então a uma lógica conclusão: se essa força diminuísse com o quadrado inverso da distância, poderia então calcular corretamente o período orbital da Lua. E essa mesma força seria a responável pelo movimento orbital de outros corpos em todo o universo, o que ele decidiu chamar de “gravitação universal”. Claro! Como ninguém havia pensado nisso antes?!? Estava “criada” a Lei da Gravidade. Óbvio, não?!? Para ele, ao menos...Mas a questão que me intriga nesta história é outra: teria Newton comido a maçã??

Newton não descansou à sombra de uma jaqueira... Sorte nossa!
Bom, a história da maçã de Newton é um pouco contestada, alguns dizem que ela caiu no solo, outros dizem ainda que eles apenas supôs uma situação. Mas diga a verdade: a história fica melhor assim, não fica? Contestação nenhuma há, entretanto, na história do cruel envenenamento da Branca de Neve pela maligna rainha. Está tudo lá, registrado e documentado no longa-metragem da Disney, de 1937, baseado em conto (“Branca de Neve”) dos irmãos Grimm (diga-se de passagem: gênios da literatura infantil). Que perigos poderiam se esconder sob a pele crocante no interior da polpa suculenta de uma linda e vermelha maçã? E vou contar um segredo: que medo que eu tinha dessa rainha perversa quando eu era criança...mais ou menos o mesmo sentimento que sinto hoje quando vejo o ex(?)-presidente Lula na TV...!!
Acima, a malvada rainha. Abaixo, Branca de Neve e a Tentação...
Nova York, nos Estados Unidos, adotou a maçã como símbolo. No caso, a “Grande Maçã”, alcunha pela qual a cidade se tornou mundialmente conhecida. Os adesivos da “Big Apple” podem ser encontrados em todo o mundo, de Paris à Buenos Aires, da surfista Austrália à comunista China, na esotérica São Thomé das Letras, Minas Gerais, ou adornando os fuscas da pacata Cunha, enfincada na ferradura formada pelas Serras do Mar, da Bocaina e da Mantiqueira, em São Paulo. Mas, surpreendentemente, não se trata de nenhuma homenagem ianque ao fruto proibido. Corria o ano de 1909 quando Edward S. Martin escreveu um livro (Wayfarer in New York) contendo uma crítica a distribuição de renda entre os estados americanos. Como metáfora, utilizou uma grande macieira como sendo os Estados Unidos, e chamou NY de “A Grande Maçã” que, sob sua ótica, era merecedora de uma fatia maior dos recursos públicos do país. Na década de 1930, jazzistas passaram a chamar a cidade deste modo. Mas foi mesmo a partir da década de 1970 que o apelido pegou, mesma época do início da praga da proliferação dos adesivos “Big Apple” e “I Love NY”.
Um dos milhares de modelos de adesivo da "Big Apple"
Steve Jobs, gênio morto recentemente e fundador da Apple Computers, não teve a maçã como inspiração instantânea. Pensou anteriormente em batizar sua empresa como Matrix, Executek, Personal Computer Inc., entre outros nomes. A escolha final se deveu a uma mistura de tino comercial, esperteza e pragmatismo. Sabe como Jobs escolheu o nome? Suas palavras: “Eu estava em uma das minhas dietas frugívoras. Tinha acabado de voltar da fazenda de maçãs. O nome parecia divertido, espirituoso e não intimidante. Apple tirava a aresta da palavra computador. Além disso, nos poria à frente da Atari na lista telefônica". Pronto. O cara mal fundou a empresa e já começou à frente da até então poderosa Atari (quem não se lembra do videogame da Atari? Jogos como River Raid, Space Invaders, Decathlon e, claro, o imbatível Pac Man, fazem parte da minha história de moleque)...
Para quem não conheceu: este é o vídeo-game da Atari, sucesso nos anos 80
Fruta mais cultivada no planeta Terra, foi apenas a partir da metade dos anos 1970 que o Brasil tornou-se um grande produtor de maçã, sendo os três Estados da região Sul e mais o Estado de São Paulo os principais produtores da fruta, considerada a “rainha das frutas européias”. Uma das razões do sucesso da maçã mundo afora é a sua versatilidade: você pode devorar uma maçã crua, assada, cozida, grelhada, pode fermentá-la para produzir bebidas alcoólicas, pode fazer geléias, doces, compotas, recheios para tortas, bolos, crepes, pode incorporá-la em seu arroz, na maionese, na salada, enfim, pode até colocá-la como recheio em um inesperado filé de frango agridoce.  Quer mais? A casca da maçã fervida com água torna-se um chá que purifica o sangue e é um diurético excelente. O vinagre de maçã tem tantos efeitos positivos que não vou listá-los todos aqui, apenas citarei alguns: combate a artrite, a anemia, o reumatismo, a obesidade, a hipertensão arterial, dores no estômago e, quem diria, o pum...ops, desculpe: a flatulência.
O valor nutritivo da maçã é fantástico: vitaminas B1 e B2, sais minerais como Ferro e Fósforo, Niacina, Pectina, Quercetina, Flavóides, enfim, um monte de coisas que nós não somos obrigados a saber, são encontrados aos montes na pecaminosa fruta. Graças a esse coquetel de substâncias, comer maçã ajuda a regular o sistema nervoso, ajuda no crescimento, evita transtornos no aparelho digestivo, previne problemas de pele e de queda dos cabelos, combate a fadiga mental, impede que o colesterol fique acumulado em suas artérias, evita a formação de coágulos sanguíneos capazes de provocar derrames, retarda o envelhecimento e previne contra úlceras e cânceres. E, se você comer cinco maçãs por dia, sua função pulmonar ficará mais forte. Sabe o que isso significa? Que você respirará melhor. Importante: para melhor aproveitar os benefícios da maçã, o ideal é consumi-la in natura, com a casca. Sendo assim, produtos orgânicos (isentos de agrotóxicos) devem ter a sua preferência. Ou lave muito, mas muito bem.
Nos mercados brasileiros encontramos uma boa variedade de tipos de maçãs, como a Fuji, a Gala, a Red e a Granny Smith. E tem ainda a maçã verde, claro, que caiu no gosto da população em produtos como balas, sucos, essências, chicletes, etc. No país das mulheres-frutas, ao Sul do Equador, a maçã tem sua representante: a modelo (?) Gracy Kelly que, tocada com a morte de Steve Jobs (ou, como ela postou, “Esteve Jobs”), tatuou em seu corpo (calma: no pescoço...) a maçã-símbolo da Apple. Pobre Grace Kelly, atriz norte-americana ganhadora de um Oscar de melhor atriz e que teve vida de princesa (mesmo) em Mônaco até que um fatídico acidente de carro interrompesse seu sonho. A princesa que irradiava simpatia e exibia sutis e belas maçãs coradas no rosto quando sorria não merecia a existência de uma pseudo-homônima (note que a Gracy Kelly brasileira, como não poderia deixar de ser, se escreve com “y”) que fez fama com as, digamos assim, maçãs-traseiras de sua anatomia. É o Brasil, descendo a ladeira...
Grace Kelly, a original: linda e sutil
Gracy Kelly, a mulher-maçã, e a tatoo-homenagem a "Esteve Jobs"
Para os namorados, nada mais gostoso do que compartilhar uma maçã do amor em noite de São João, com a Lua cheia disputando as atenções e o direito de iluminar a noite com a enorme fogueira crepitante e acolhedora. Terminando a interminável lista de referências à maçã, não poderia deixar de lembrar a controversa e bela canção “A Maçã”, de Raul Seixas e Paulo Coelho. No início dos anos 90, a cantora (?!?) Deborah Blando regravou a música, que rendeu à sua intérprete seus 15 minutinhos de fama. Nunca ouviu falar em Deborah Blando? Puxa, que sorte a sua...
Raul Santos Seixas (1945-1989): Toca Raul!!!!
Vou postar aqui uma receita de uma sobremesa muito simples, tradicional das cidades do Sul da Alemanha. Uma sobremesa leve, servida em uma taça de Martini, que tornar-se-há inesquecível se acompanhada de uma outra taça, esta com um espumante de qualidade. Boa pedida para o Ano Novo que se aproxima...perfeita para ser saboreada a dois! Trata-se do Apfelschaum, uma espuma de maçãs que vai fazer bonito em sua mesa.
Para servir seis pessoas, você vai precisar de:
·         Maçãs vermelhas – 1 kg
·         Açúcar – 160g + 4 colheres (sopa) para as claras em neve
·         Suco de limão siciliano – 2 colheres (chá)
·         Claras de ovos – 4 unidades
·         Canela em pó
Faça desta maneira:
Descasque as maçãs, retire as sementes e corte-as em cubos pequenos. Coloque em uma panela e cubra com água. Acenda o fogo, adicione o açúcar (160g), o suco de limão siciliano, tampe a panela e deixe ferver. Reduza então o fogo ao mínimo e destampe a panela. Cozinhe por mais 12 a 15 minutos. Com o auxílio de um mixer, faça um purê com as maçãs, temperando com um pouco de canela. Deixe esfriar. Bata as claras em neve, coloque o açúcar aos poucos, e sirva sobre o purê dentro de uma taça de Martini. Para melhorar ainda mais o visual, coloque raspas de chocolate por cima para servir. (N.B.: para fazer as lascas – ou raspas – de chocolate, basta passar o chocolate em um ralador, ou passar uma faca grande no sentido longitudinal do chocolate, com cuidado). Prontinho. Uma receita fácil, de baixas calorias, que não custa caro e não demora muito – leva cerca de 1 hora e 15 minutinhos.
Como muito provavelmente eu não irei postar mais nenhum texto até o final do ano, visto que o trabalho está uma loucura nesta época – ainda bem -, deixo aqui a todos os mais sinceros votos de um Feliz Natal e um excelente Ano-Novo, cheio de paz, saúde, alegrias, amigos, amor, comidas deliciosas e Champagnes francesas legítimas. E cerveja gelada também, é claro. Feliz 2012!!