No começo deste mês de novembro, uma notícia chocou os amantes da gastronomia e a todos aqueles que adoram refestelar-se em torno de uma mesa de um restaurante e se deliciar com tentações nem sempre baratas. Refeições em bares, botecos ou em restaurantes pequenos com comida caseira são sensacionais (quase sempre, ao menos). Mas impossível negar que degustar um almoço ou jantar em um restaurante requintado, com ambiente e decoração luxuosos, com comida e serviço próximos à perfeição é uma sensação única. E, ao comermos em locais mais luxuosos, nos permitimos curtir uma certa tranqüilidade em relação às condições de higiene do local, o que algumas vezes não nos permitimos em certos botequins e restaurantes menores – com toda razão, aliás. Locais requintados (e conceituados) nos transmitem, além da sensação de que iremos comer a comida dos deuses, uma sensação talvez inconsciente, mas confortável de segurança.
Por esta razão, a notícia de que o chef e a nutricionista de um luxuoso hotel de São Paulo haviam sido presos por armazenar em seu restaurante comidas vencidas, portanto impróprias para o consumo, caiu como uma tempestade com relâmpagos em dia de jogo final da Copa do Mundo. Acabou a sensação de segurança. A vontade é a de levarmos aos restaurantes a tiracolo um daqueles provadores de comida, que tinham até um bom emprego naqueles medievais tempos: comiam e bebiam do bom e do melhor até chegar o dia em que algum traidor ressentido e inescrupuloso resolvesse acabar com a vida do monarca envenenando sua comida.
Entre os produtos vencidos apreendidos pela polícia no hotel em SP, filé mignon, palmito e salmão dão uma idéia da nobreza dos ingredientes utilizados pelo chef. Alguns produtos estavam vencidos há poucos dias, mas outros tinham o ano de 2008 como prazo de validade!! Alegar que os produtos não seriam utilizados, como fez o hotel, não nos conforta em nada, e não justifica. Pior, só aumenta a sensação de insegurança.
Eu me considero um sortudo: nos locais onde tive o prazer de trabalhar (e no local onde atualmente trabalho), as normas de higiene da vigilância sanitária sempre foram tratadas com a devida atenção e preocupação. Não apenas pela multa aplicada (sempre pesada, espera-se), mas porque boas condições de higiene são fundamentais e demonstram respeito ao cliente. Produtos vencerem faz parte do negócio de alimentos. Sempre corremos o risco de comprar um pouco além do que imaginamos que iríamos vender, ou compramos mais mesmo para termos segurança de que nenhum prato faltará no jantar de sábado. Mas a solução para o que fazer com produtos vencidos deve ser sempre uma só: o lixo.
Agora que atiramos as pedras, vamos brincar um pouco de ser vidraça: quando foi a última vez que você verificou seu freezer e congelador? E etiquetas, você tem o costume de usar? Já aconteceu de você tirar um pacote ou embrulho do freezer e não saber exatamente do que se trata? Ao descongelar um lagarto recheado, descobriu se tratar daquela feijoada congelada desde o Dia das Mães (do ano retrasado)? E antes de congelar, você tem certeza de que manipulou o alimento de forma a eliminar todos os riscos (físicos, químicos e biológicos)? E a maneira como você congelou o produto, a embalagem, a temperatura...Pois é, assim como nos restaurantes, em nossas casas devemos ter as mesmas preocupações com a higiene e a manipulação dos alimentos.
Etiquetas: segurança de maneira prática. |
Identificar o alimento, com a data em que ele foi manipulado e congelado, e com a data de validade, é fundamental. Não toma tempo e deve tornar-se um hábito. Tenha as etiquetas e uma caneta em algum cantinho de sua cozinha, dentro de uma gaveta ou no cantinho do armário. Melhor ainda se você etiquetar cada alimento que colocar na geladeira, também identificando-o e colocando a data. Em geral, na geladeira, os alimentos duram 4 dias (frutos do mar como camarões e lagosta, melhor consumir em dois dias). Existem tabelas onde você pode encontrar o tempo certo de refrigeração e congelamento de cada produto. Na dúvida, pesquise, procure saber. Se você não tiver certeza de quanto tempo pode congelar determinado alimento, não corra riscos: Carnes vermelhas e de aves duram três meses congeladas, com segurança. Peixes e frutos do mar em geral, após dois meses congelados, descarte.
Mas a atitude mais segura que você pode adotar em sua casa, é a mesma adotada nos restaurantes (pelo visto, não em todos os restaurantes): Siga o PEPS! Eu sou um seguidor do PEPS, e muito provavelmente você também é um seguidor do PEPS. Hein?!? Do que estou falando, afinal? Você deve estar pensando: “eu nem gosto muito de PEPSI, prefiro uma Coca gelada com limão...” PEPS é a abreviação para uma norma de segurança que nossas avós já seguiam: Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair. Isso quer dizer que, ao colocar produtos na geladeira ou freezer, devemos colocar estes novos produtos atrás dos que já estavam armazenados. Desta maneira, ao retirarmos os alimentos, retiramos primeiro os que já estavam ali há mais tempo, diminuindo o perigo de vencimento da comida. Simples e prático.
Então, não percamos mais tempo: depois das campanhas Brasil Sem Fome, Brasil Sem Cigarro, está lançada a mais nova campanha mundial Chame o Chef: Brasil Com PEPS. O Brasil com PEPS é mais seguro para nossas famílias! Seja um seguidor do PEPS, ensine suas crianças sobre o PEPS, espalhe, difunda essa ideia (caramba, ainda é difícil escrever ideia sem acento...). Faça adesivos, promovas debates em seu condomínio, grite na praça de alimentação do shopping! Claro que estou brincando (embora não me pareçam ideias assim tão absurdas...), basta começar por sua casa, ensinando suas crianças. E ficamos na torcida para que os hotéis (hotéis ainda leva acento?) e restaurantes sejam mais competentes em contratar profissionais responsáveis pela saúde de seus clientes.
Mais um último lembrete: você pode pedir para conhecer a cozinha de qualquer estabelecimento que sirva comida. A lei manda os locais a terem fixado em lugar visível um adesivo anunciando essa norma mas, mesmo na ausência deste adesivo, você tem o direito legal de conhecer qualquer cozinha de qualquer restaurante (ou bar, hotel, motel, enfim...). Se este direito lhe for negado, chame a polícia. E Chame o Chef, que faço questão de postar aqui no blog. Combinado?
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