sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

POSSO FALAR COM O CHEF?

_Posso falar com o chef, por favor?
No Brasil, quando ouvimos essa frase em um restaurante, quase podemos ver um brilho no olhar sádico e uma gotinha de veneno escorrendo em um discreto sorriso na boca do garçom: geralmente, a frase precede a uma reclamação monstruosa e nem sempre educada por parte do cliente em relação a comida que lhe foi servida. E garçom, por alguma razão, ADORA quando o alvo das críticas vem da cozinha e não do salão.

Ouvir reclamações faz parte de uma profissão que lida com pessoas diferentes a cada dia, cada qual com suas preferências, humores, gostos e desgostos. Saber ouvir reclamações (até mesmo quando elas vêm acompanhadas de uma desnecessária grosseria) deveria fazer parte da grade curricular do cozinheiro. Não sabe ouvir reclamações? Está reprovado! Um mesmo prato, preparado da mesmíssima maneira, pode agradar a uns e desagradar a outros. O melhor é que o garçom, antes de sugerir e servir o prato, explique detalhadamente como este será preparado, quais os ingredientes em sua composição e, em alguns casos, qual a maneira correta de degustá-lo.
Não sou um cliente fácil de se agradar, admito. Quando saímos, eu e minha esposa, para comer fora, procuro não criar muitas expectativas, porque detesto ser chato (embora às vezes seja necessário) e adoro comer bem. E não tem nada mais chato do que sentar em uma mesa e ficar pensando (ou pior, falando): eu faria melhor, eu faria de outro jeito, eu faria...já que estamos ali, vamos curtir o momento, perdoar pequenos deslizes. Se aprendemos com nossos erros, aprendemos com erros alheios também. É assim que procuro encarar as falhas (minhas e de outros): uma chance de aprender e melhorar.
Nos melhores restaurantes, toda a equipe de garçons prova cada prato, sabe como foi executada cada preparação, conhece os ingredientes e, quando sugere o prato ao cliente, o faz com conhecimento de causa. Mas mesmo com todas essas preocupações e precauções, as reclamações vão surgir, ou por erro do cozinheiro (acontece, e muito), ou porque o serviço não agradou ou porque o cliente é chato mesmo.

Felizmente, a frase “posso falar com chef?” já não quer dizer única e exclusivamente que a comida não agradou. Pelo contrário, já é comum os clientes tecerem elogios às habilidades culinárias do chef, chamando-o à mesa e fazendo-o corar de satisfação. Não há nada melhor para o cozinheiro do que receber elogios daqueles que acabaram de provar sua comida. Elogios são bem vindos, aliás, em qualquer profissão, mas para o cozinheiro essa costuma ser a única gratificação (além do salário, claro), já que a caixinha raramente (para não dizer nunca) atravessa as portas da cozinha.
Não entendo muito das regras de etiqueta para ofertar um dinheirinho extra ao cozinheiro que preparou aquela comida que você provou e aprovou. Mas posso afirmar que aquela caixinha dada ao garçom JAMAIS chegará ao cozinheiro. Penso que o melhor a fazer é o seguinte: se gostou do serviço, dê a caixinha ao garçom. Se gostou da comida, chame o chef à sua mesa e faça-o saber de sua satisfação e que será dada uma caixinha a ele (dar dinheiro na hora não me parece ser o mais apropriado). Ou dê uma passadinha na cozinha (agora é lei, você tem o DIREITO de conhecer a cozinha do local onde sua comida foi preparada). De qualquer maneira, esforce-se para que da próxima vez em que proferir o famoso “posso falar com o chef?” não seja apenas para criticar. Elogie. Faz bem para alma, sua e a do cozinheiro.

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