quarta-feira, 30 de março de 2011

NÃO ACREDITO NO GALO!

Meu vizinho comprou um galo. Alguém deveria avisá-lo dos riscos que este animalzinho corre, já que tem agora um cozinheiro como vizinho. Faz já aproximadamente um mês a primeira vez em que ouvi o galo cantar por essas bandas, então imagino que o bicho deve estar bem grandinho, ou, para um cozinheiro como eu, no ponto!
Nada tenho contra os galos. Adoro galo! Adoro-os cozidos, fritos, empanados, assados inteiros ou em pedaços, grelhados. Também nada tenho contra galos vivos. Afinal, para quem saiu da caótica capital paulista e se refugiou em uma cidade do interior, não poderia haver cena mais bucólica do que despertar ouvindo o galo cantar. O galo, como se sabe, canta ao primeiro raiar do sol.
Mas não esse galo. Deve ser algum problema de fuso, sei lá. Três e meia da manhã. Este é o horário que meu vizinho-galo adotou como a melhor hora para seu show. E o bicho parece um relógio suíço, de tão pontual. Não acredito mais no galo! O galo mente! Pensei em ser sutil com meu vizinho, e convidá-lo para almoçar em casa. No cardápio, claro, frango. Será que ele entenderia a mensagem?
O menu pode ser multicultural, afinal o frango está presente nas mesas de praticamente todo o mundo! Do extremo oriente, o delicioso frango agridoce, que pode ou não ser empanado. Continuando na Ásia, o frango com curry, sensacional! Da Europa, especificamente da França, o Coq au Vin, clássico! E há adaptações, como o strogonoff de frango. Espetinhos de frango, hambúrguer de frango, almôndegas de frango, recheio de frango com ricota para massas, miúdos de frango...a lista não pára, são milhares de receitas e modos diferentes de preparar um suculento frango. De nossas roças, o saboroso frango ao molho pardo (ou galinha de cabidela), preparado com o sangue do animal, o que lhe confere um sabor inigualável! Não faça essa cara de nojo, experimente!
O molho pardo dá cor e sabor inigualáveis ao frango
Aqui na rua, por uma dessas coincidências, não sou o único cozinheiro, o que não me deixaria como único suspeito se algo acontecesse com o bicho. Minha mulher é chef de um ótimo restaurante da cidade, a casa à minha esquerda é moradia de outro casal de cozinheiros e a casa logo à minha direita é habitada por um casal formado por uma senhora nordestina e um senhor português (o Galo de Barcelos, você sabe, é símbolo - não oficial - de Portugal), que faz aquele doce maravilhoso, o Pastel de Santa Clara. Receita original de sua família, guardada apenas na memória dele. E, mais a direita, três casas além, mora a mãe de um ex-chef de cozinha de um prestigiado hotel de uma rede internacional. Como se vê, muitos suspeitos para um crime ainda não cometido.
O Galo de Barcelos simboliza honestidade, fé e sorte
Fui fazer uma visita ao meu vizinho, mais para conhecer o galo e seu local de cantorias do que propriamente uma visita de cortesia. E, quem sabe, poderia deixar uma portinha aberta por onde o frango escapasse mundo afora. Quem atendeu a porta foi sua filha, de seis anos. Perguntei pelo pai, que não estava em casa nesta hora. Mas o frango estava!
_Quer conhecer meu bichinho, tio? – disse a menininha, com aquela inocência que só as crianças têm.
_Claro! – respondi eu, salivando...
Fomos até o quintal dos fundos, o palco de meu vizinho-galo.
_Este é o Zico, homenagem a um jogador de futebol que meu pai disse que jogava mais que o Ronaldo Fenômeno! Era o apelido dele, o Galinho de Quintino, o senhor conheceu? – a menina sorria com o galo nos braços.
Pronto! Estavam encerradas minhas pretensões de cozinhar aquele galo. Afinal, depois de dar nome ao bicho, como seria possível degolá-lo, depená-lo e servi-lo? E era o Zico, para complicar ainda mais. Se fosse há 25 anos, quando o jogador Zico perdeu aquele pênalti contra a França na copa de 1986, talvez eu não tivesse tanto pudor. Mas hoje, passados tantos anos...
Sorte minha que o galo cantor não é o único artista da região. Também bastante pontuais, dezenas de bem-te-vis começam a cantarolar às seis e meia da manhã, em nossa janela. E meu cérebro já está regulado: quando ouve o galo cantar, simplesmente ignora. Meu cérebro também não acredita mais no galo. Já o canto dos pássaros, bem mais bonito e suave, por sinal, indica que o dia começou. Fico aqui pensando...será que tenho em meus livros alguma receita de bem-te-vi?!? Já comi muito frango à passarinho pelos bares Brasil afora, mas frango com passarinho, seria a primeira vez, hehehe...

segunda-feira, 28 de março de 2011

GARDE MANGER: O ARTISTA NA COZINHA

Cozinhar é uma arte. Isso já foi dito e escrito em livros, camisetas e slogans de escolas culinárias. Eu mesmo tenho em minha casa um artesanato adquirido em Santo Antônio do Pinhal, cidadezinha simpática na Serra da Mantiqueira, feito por uma senhora ainda mais simpática, que tem esses dizeres escritos: “Cozinhar é uma arte”.  
No livro “Professoras na Cozinha” (Laura e Marilena de Souza Chaui, Editora SENAC), as autoras explicam que arte é uma técnica, e que toda técnica possui três características principais: pode ser ensinada e aprendida, possui instrumentos próprios para ser executada (viva os utensílios culinários!) e possui uma linguagem própria (você já deve ter escutado em bouquet garni, tornear, lardear, bardear, etc. Não? Basta aprender...). Cozinhar, então, é mesmo uma arte.
Mas mesmo entre os artistas existem diversos níveis e hierarquias. Claro que o prato de um chef, ao chegar à sua mesa cheio de cores e aromas, com apresentação impecável, é uma forma de arte. Mas, dentro de uma cozinha, existem dois profissionais que merecem o meu (e o seu, o nosso) respeito, pela forma delicada e minimalista com que executam seu trabalho. Verdadeiros artistas. São eles o chef confeiteiro e o chef de garde manger. O confeiteiro você conhece, é aquele que faz os doces, lindos e saborosos. Mas quem diabos é o garde manger?!?
Em uma cozinha profissional, principalmente as de hotéis, existem diversas “praças”, com seu respectivo funcionário: o açougueiro, o rôtisseur (cozinheiro de assados e grelhados), o churrasqueiro, o tournant (espécie de “coringa”, faz-tudo), o confeiteiro, o chef de cozinha, o sous-chef, e o “garde manger”. Garde-manger significa, literalmente, guarda-comida, e o profissional de garde manger é o responsável pelas elaborações frias, charcutarias, saladas, terrines, canapés, molhos frios, bufês e esculturas de diversos materiais. É uma das partes mais bonitas da cozinha, quando o trabalho é bem feito e sem exageros. É muito tênue a linha que separa uma bela escultura de garde manger de uma oferenda à Iemanjá. Cuidado e bom senso, por favor!
Sou suspeito ao tratar do assunto, visto que minha esposa, quando a conheci, era chef de garde manger do Grande Hotel Senac de Campos do Jordão (era a minha professora, aliás...). Preparávamos verdadeiras obras de arte naquele local, tábuas de frios e queijos divinas, saladas lindamente decoradas, molhos fantásticos. Não raro saiam lágrimas dos olhos da professora, e o retorno dos hóspedes no salão era sensacional.
      Mas é preciso frear a imaginação, às vezes. Ainda tem quem goste e ache bonitas aquelas esculturas de comida, esculturas esculpidas no gelo, outras feitas de manteiga, pingüins de berinjela, pássaros de cenoura e rabanete, flores de melancia, etc. Mas, ao “brincarmos” com a comida, precisamos pensar em quem vai consumir o produto, certo? Confesso que eu tenho uma tendência a exageros quando estou no garde manger, por isso procuro conter minha criatividade nestes momentos. Mas, se o cliente gostar e pedir, daí sim, dê asas à sua imaginação!
Escultura feita no queijo!!
o Mestre Yoda, da série "Guerra nas Estrelas", feito de manteiga: que a força esteja com você!
Veja também alguns vídeos no YouTube, vale a pena conferir:

quinta-feira, 24 de março de 2011

GARAM MASALA: UM NOVO MUNDO!

Você já parou para pensar que, graças à gastronomia, um mundo novo enorme foi descoberto?  O nosso mundo? Já se vão mais de 500 anos desde as grandes navegações, em que bravos homens se lançavam ao mar, e prá quê? Para descobrir um novo caminho para as Índias, à procura de especiarias!
Tudo bem, este não era o único motivo para esses corajosos homens se arriscarem rumo ao desconhecido, em um mar povoado por monstros marinhos do tamanho de um iceberg (ao menos era a crença na época)...claro que havia interesses econômicos (eles estavam à procura de metais preciosos, matérias-primas e terras novas) e religiosos (a igreja estava à procura de novos fiéis), mas é mais romântico imaginar que estas pessoas embarcavam nestas aventuras à procura de comida. Não acha?
Até então, o mar mediterrâneo, dominado pelos italianos, era o único caminho conhecido para as Índias. Veneza e Gênova eram os centros comerciais onde podiam ser adquiridos produtos como açafrão, canela, gengibre e pimenta, entre outros, entretanto os burgueses do país da bota cobravam preços altíssimos pelas especiarias do oriente. Tempos difíceis, aqueles dos séculos XV e XVI.
Eu não conheço pessoalmente a Índia, mas sou fascinado pela sua cultura, seus costumes, seu povo heterogêneo, suas crenças, suas religiões, seus deuses, sua rica culinária. Para nós, nascidos no distante ocidente do século XX e XXI, o “Novo Mundo” hoje são os países do leste europeu e da Ásia, como a Índia. Eles escondem sabores milenares, característicos, diferentes de tudo a que estamos acostumados em nosso cotidiano. E isso é fantástico!
Um ingrediente muito usado na cozinha indiana é a masala, que é uma mistura de condimentos, plantas aromáticas e ervas, tudo reduzido a pó, e que dá um sabor único às preparações. A masala, assim como o curry, não possui uma receita específica. Cada família tem a sua receita, algumas delas chegando a ter até 30 ingredientes! Se você acrescentar a pimenta malagueta à masala, você terá a garam masala (que significa “especiarias picantes”, ou “mistura quente” ou ainda “mistura picante”), e é esta receita que vou passar aqui. Depois de feito, você pode guardar esse pó de especiarias por bastante tempo, se você conseguir não utilizá-lo em tudo o que for fazer.
Eu, quando faço a garam masala, a utilizo em todas as minhas preparações, para horror de minha esposa e amigos. Certa vez, temperei a picanha sagrada de um churrasco de domingo com este pozinho mágico, e tenho certeza de que, fossem os parentes da minha mulher gaúchos, eu não estaria aqui para escrever este blog. Acontece que o sabor da canela fica muito pronunciado, e nosso paladar ocidental definitivamente não está preparado para saboreá-lo em alimentos salgados. Para a maioria de nós, cravo e canela são sinônimos de doces, e olhe lá...Então, quando eu preparo a minha garam masala, a guardo apenas para mim, em refeições solitárias. Tudo bem, eu simplesmente adoro! Vamos à receita (lembre-se, esta não é uma receita específica, você pode retirar ou acrescentar algum ingrediente, fique à vontade):
·         2 paus de canela
·         1 folha de louro
·         1 malagueta seca
·         1 colher (sobremesa) de noz-moscada ralada
·         2 colheres (sobremesa) de sementes de cardamomo
·         2 colheres (sobremesa) de cravo-da-índia
·         2 colheres (sopa) de cominho em grão
·         2 colheres (sopa) de pimenta-do-reino em grão
·         4 colheres (sopa) de coentro em grão

Veja que fácil: em uma frigideira, torre todas estas especiarias, em fogo médio, por 3 minutos. Mexa sempre para que fiquem torradas por igual. Coloque-as num papel absorvente e, quando esfriarem, triture-as em um pilão (ou moedor, se preferir), até que tudo se transforme em pó. Pronto!
Tente fazer costeletas de porco com garam masala, lombo, peixes, frango, ensopados, enfim, prove esse novo sabor. Lembre-se de que o novo sabor pode causar estranhamento, então, se sua família e amigos não gostam de “aventuras gastronômicas”, use com moderação. E nunca, jamais, em hipótese alguma, use no churrasco sagrado de domingo...Mas não deixe de fazer por medo, afinal você também pode descobrir um novo e delicioso mundo! Aventure-se rumo às Índias!

segunda-feira, 21 de março de 2011

BOLAS, ORAS!

Existem utensílios culinários para que você possa fazer praticamente de tudo. Fatiar, triturar, espremer, tornear, misturar, bater, amassar, aquecer, esfriar, enfim, um mundo de possibilidades. Mas tenho notado que a grande maioria das pessoas tem em suas casas alguns utensílios e não sabem como usá-los, às vezes é até pior: não sabem para que servem. Um grande exemplo disso é o boleador. O bole o quê?!? B-o-l-e-a-d-o-r. Sabe aquele seu descascador de legumes, que aliás pode servir para tirar finas fatias de queijo, ou de legumes (essa dica é boa!)? Pois este descascador, se for do modelo mais conhecido e vendido (e o mais prático também...) possui, na outra extremidade, um boleador.
O mais comum: de um lado, descascador; do outro, o boleador
Mas para quê eu quero um boleador? Para fazer bolas, oras! E para quê eu quero fazer bolas de comida? Para deixar seus pratos incrivelmente mais bonitos, com aquela aparência de restaurante estrelado do guia Michelin. E, como sabe, a visão é o primeiro dos sentidos despertados pelos pratos dos grandes chefs, seguidos pelo olfato (hum...que cheirinho bom...), audição (aquele “crack” que se ouve quando você morde algo crocante é sensacional, concorda?), tato (em alguns casos) e, claro, o paladar. Nem sempre nesta ordem, mas todos com a mesma importância na degustação (ainda escreverei sobre esse assunto: análise sensorial dos alimentos. É coisa levada muito seriamente pela indústria de alimentos. Aguardem!).
Fazendo bolinhas de abobrinha
Se o seu descascador de legumes não possui um boleador, não fique chateado. Existem boleadores de diversos materiais e tamanhos (inclusive aqueles de sorvete), e você encontra nas melhores lojas de R$ 1,99 (mas atenção à qualidade do material: plásticos finos se quebram com facilidade). Se puder gastar um pouquinho mais (ou BEM mais), existem modelos chiques (em aço inox, com cabo de marfim, de prata, de ouro, etc.) em lojas especializadas, que servem até para decorar sua cozinha...
E em quais alimentos é possível usar o boleador? Em diversos. Frutas ficam ótimas: imagine uma salada de frutas feita de bolinhas de melão, bolinhas de melancia, bolinhas de mamão, bolinhas de banana, uvas (que dispensam o boleador, obviamente)...imagine as cores, as formas...não fica lindo?!? Fica. Imagine essa salada servida em uma taça, daquelas de Martini, com um pouquinho de suco de laranja! Não fica maravilhoso? Assim como também fica uma salada de batatas, cenouras, mandioquinha (cozinhe antes, claro, para não quebrar seu boleador), pepinos, abobrinhas, etc.
Torta Tropical: bolas de manga, bolas de mamão, uvas verdes.
Mas não se restrinja às saladas. Você pode servir bolas de batatas e cenouras, por exemplo, para acompanhar assados, grelhados, peixes, porções. Você pode servir bolas de chocolate em sua sobremesa. Uma tábua de frios com bolas de queijo maasdam, gouda, emmental, cheddar, gruyère, gorgonzola, com algumas frutas secas espalhadas cuidadosamente...Use sua imaginação, é isso que tornará sua refeição inesquecível para seus convidados. Ouse, com critérios (não queira fazer bolinhas de picanha em seu próximo churrasco dominical. Algumas coisas, simplesmente, não dão certo...).


Faça uma visita à sua cozinha. Procure saber como utilizar seus equipamentos, como usá-los corretamente, quais as possibilidades que aquele utensílio propõe. Sua família vai adorar, seus amigos vão se surpreender! Então, não enrole: faça bolas, oras!

sábado, 19 de março de 2011

A DIETA MEDITERRÂNEA

Com toda certeza você já ouviu falar da última dieta da moda, aquela que realmente funciona, e, tempos depois, de como essa dieta não era assim, digamos, tão infalível. Muito provavelmente você até já seguiu alguma dessas receitas milagrosas, que prometem resolver seus problemas de peso de uma vez por todas.
Dieta da sopa, dieta das cores, dietas das letras, dieta dos pontos, dieta do tipo sanguíneo, dieta dos carboidratos, dieta das proteínas, dieta da água, dieta da fome...são milhares de dietas que, na grande maioria dos casos, até causam uma primeira boa impressão, você acha que desta vez acertou na dieta, mas...tudo volta a ser como era antes. Dietas são como música: fazem um sucesso estrondoso, viram populares, depois caem no esquecimento e, tempo depois, há um “revival” cheio de nostalgia: “Estou fazendo a dieta das frutas, que a minha mãe fez quando tinha minha idade...para ela, foi ótimo”. Foi mesmo?!?
Para funcionar bem, qualquer dieta deve ser acompanhada de uma mudança nos hábitos cotidianos. A palavra dieta deriva do grego díaita, que significa modo (estilo) de vida, e sim, existe uma dieta que não saiu de moda nunca, e recentemente foi reconhecida pelos médicos como sendo excelente para a saúde: a Dieta Mediterrânea.
Era o ano de 1945 e, ao desembarcar na Itália, Ancel Keys, médico norte-americano, notou que a população local sofria bem menos de problemas cardíacos do que o povo de seu país natal. Notou, aliás, que os povos de todos os países mediterrâneos pareciam viver mais e melhor que os americanos. Na década seguinte, Keys começou um estudo relacionando a dieta de um povo com a freqüência da ocorrência de problemas cardíacos e, entre 1958 e 1964, analisou fatores de riscos cardiovasculares em treze mil homens entre 40 e 59 anos, distribuídos em 7 países diferentes, três destes na região mediterrânea (Itália, Iugoslávia e Grécia).
Ancel Keys
Com base nessas observações, Keys publicou, em 1975, o livro “How to Eat Well and Stay Well, the Mediterranean Way" (Como alimentar-se bem e sentir-se bem, à maneira mediterrânea). Estava lançada a Dieta Mediterrânea. Ele relacionou alimentos que deveriam ser consumidos diariamente, outros semanalmente, e ainda outros que deveriam ser consumidos poucas vezes ao mês, tudo isso acompanhado de atividades físicas diárias e água (e vinho...êba!!). Veja a pirâmide alimentar criada por Keys:

Em pesquisa recente da Universidade de Atenas, Grécia (publicada no Journal of The American College of Cardiology), comprovou-se que, além de prevenir doenças cardíacas, a Dieta Mediterrânea também ajuda no controle da hipertensão arterial, obesidade abdominal, colesterol e resistência à insulina. Além disso, o estudo revelou que a Dieta Mediterrânea também aumenta os níveis do "bom" colesterol, o HDL.
Então, se você é daqueles que adoram seguir uma dieta, adote essa para sua vida. Veja bem: para sua vida toda, não apenas por um período de tempo. Se dá certo? Bom,  Keys viveu – e bem – até os cem anos, e basta dar uma olhada na população dos países mediterrâneos para concluir que sim, essa receita (que não é milagrosa, diga-se) pode melhorar sua qualidade e expectativa de vida. Viva bem, com saúde, sem abrir mão dos alimentos que te satisfazem. E com vinho! Aleluia!

quarta-feira, 16 de março de 2011

AMIGOS ARGENTINOS: SIM, ELES EXISTEM!!


      Assim como paulistas e cariocas, existe desde sempre uma relação de rivalidade entre brasileiros e argentinos. Sempre ouvimos piadas sobre nossos hermanos, e não perdemos a chance de cutucá-los quando podemos, ainda mais se assunto for futebol (nunca saberemos se eles realmente acham que Maradona foi melhor que Pelé (!!), ou se apenas dizem isso para nos tirar do sério. Mas a verdade é que, hoje, o melhor jogador é um argentino, Messi, que está simplesmente arrasando adversários jogando pelo Barcelona, da Espanha).
Maradona e Pelé : ídolos nacionais
Entretanto, se paulistas e cariocas podem criar laços de amizade, também é possível fazer o mesmo com nossos vizinhos continentais. Tive um grande amigo argentino, o Jorge, quando morava em Curitiba, no final dos anos 80 e início dos 90, e inclusive moramos juntos, eu, meu pai e ele, durante 6 meses em São Paulo, quando nos preparávamos para encarar o temido vestibular (entrar numa faculdade, diga-se de passagem, era muito, mas muito mais difícil que nos dias atuais). O tempo passou e os caminhos seguiram rumos diferentes. Hoje, graças à tecnologia, reencontrei-o via facebook, e resolvi escrever sobre este grande país, a Argentina, que nós adoramos criticar, mas que, no fundo, sempre tivemos uma ponta de admiração. Admiramos Buenos Aires e seu clima de cidade européia em plena América Latina, admiramos seu povo politizado, educado, civilizado. Admiramos suas personalidades (Jorge Luis Borges, Evita, “Che” Guevara, Juan Manoel Fangio, Carlos Gardel, Mercedes Sosa, Juan Domingo Perón, entre outros), suas belas mulheres, claro, e seu futebol também, por que não? E admiramos seus excelentes vinhos, a fama de sua carne bovina e o churrasco que dela é feito.
Mercedes Sosa: se você não conheçe sua música, não deixe prá depois!

Gastronomicamente falando, a primeira imagem que nos chega à mente é mesmo o churrasco, a qualidade da carne argentina e, claro, seus vinhos. Mas a Argentina é muito mais que isso. Como todos os povos colonizados por países do Velho Mundo, a culinária argentina é uma deliciosa mistura de culturas e sabores de todo o globo. Encontramos influências espanholas (puchero – o cozido à espanhola, e os doces, deliciosos), italianas (massas, como nhoque e pizzas, são muito populares), hebraicas e judaicas (pavo a la polaca – o peru à polaca), entre outras. E, claro, a influência guarani, com o uso do mamão, da mandioca e da abóbora.
O tradicional churrasco argentino
Eu, quando penso em gastronomia argentina, penso logo nas empanadas mendocinas, delícias que se situam entre as empadas e os pastéis, e que, também no Brasil, fazem sucesso (se você mora em São Paulo, capital, precisa ir ao menos uma vez no Empanadas Bar, Vila Madalena. Começou como uma pequena porta, hoje ocupa um grande espaço na rua Wisard). Podem ser feitas com inúmeros recheios, mas o meu preferido é o tradicional de carne moída (ou picada), com ovos, azeitonas e uvas passas. Se você é daqueles que torce o nariz quando ouve “uva-passa”, dispa-se dos preconceitos e prove. Você pode se surpreender, como eu me surpreendi. Vamos à receita desta maravilha:

Para fazer 12 empanadas, você irá precisar de:
·         500g de farinha de trigo
·         500g de cebola bem picada (ou brunoise, para os gastrônomos...)
·         500g de carne moída ou picada
·         500g de banha de porco
·         120g de uva-passa
·         1 gema de ovo
·         2 ovos cozidos picados
·         1 xícara de leite
·         12 azeitonas, sem caroço
·         1 pimentão picado(opcional)
·         ½ colher (café) de páprica
·         3 colheres (sopa) de azeite
·         Sal
Em uma panela, doure a cebola no azeite em fogo baixo, por cerca de 15 minutos, mexendo sempre. Acrescente a páprica (cuidado para não queimar) e refogue mais meio minuto. Coloque então a carne, refogue em fogo alto. Quando a carne mudar de cor, coloque a uva-passa e o pimentão, se desejar. Abaixe o fogo e mexa até amaciar a carne. Junte os ovos, misture e reserve.
Em um recipiente, coloque a farinha, junte a gema e 5 colheres da banha derretida, e amasse bem. Vá colocando o leite aos poucos, um pouco de sal e água morna, até que a massa fique macia, uniforme, sem grudar nas mãos. Corte esta massa em 4 e abra 4 folhas com um rolo (faça isso em uma superfície lisa e polvilhada com farinha). Em cada folha, corte 3 círculos. Em cada círculo, coloque uma colher (sopa) do recheio de carne e uma azeitona. Feche o círculo, dobrando as beiradas e pressionando com os dedos. Doure no restante da banha bem quente.
Se você tiver um bom vinho tinto argentino em sua adega, essa é uma boa hora de sacar a rolha! Um brinde aos amigos, de qualquer nacionalidade! Faça, e quando receber os elogios que certamente virão, não se esqueça de agradecer:
_Gracias!

segunda-feira, 14 de março de 2011

COMIDA DE RUA


Que atire o primeiro cachorro-quente quem nunca fez uma paradinha em alguma barraca de alimentos em plena rua. E aqui vale de tudo: as famosas barracas de pastéis nas feiras-livres, hot-dogs com tudo dentro (tudo mesmo!) nas saídas de baladas, sanduíches na entrada e/ou saída de shows, etc. Não dá para negar que a tentação é enorme, e o diabinho da fome, quando bate, fica sussurrando no ouvido até desembolsarmos o dinheiro do lanche, mesmo achando a comida suspeita. Ou você acha que a expressão “churrasquinho de gato” é mesmo somente uma divertida expressão?!?
Churrasquinho de gato siamês: criado na ração, nunca comeu rato!! Meu Deus!!

Uma das boas lembranças que tenho de quando morava em São Paulo e ia ao Estádio do Morumbi ver o tricolor paulista em ação era a parada obrigatória para degustar um sanduiche de pernil, enorme e saboroso! Fazia parte do pacote, e eu procurava comê-lo antes do jogo, para o caso de que uma eventual derrota do meu time de coração me arrancasse a vontade de comer.
Ainda em São Paulo, quem nunca ouviu falar do famoso churrasquinho-grego, vendido no centro da capital? Por um preço irrisório (não sei se ainda custa 1 real), você compra o lanche e ainda ganha um “ki-suco”. Mas cabe aqui aquele porém: higiene. A pessoa que pegava o pão, cortava-o e recheava-o com a carne era a mesma que pegava o dinheiro e conferia o troco. E, pior: às vezes, esta pessoa até tem luvas descartáveis, mas não as retira na hora de receber o dinheiro, acabando de vez com as boas intenções do uso das mesmas.
Currasco Grego em SP: por R$ 1,00, você tem direito a dois sucos!!

Falta de higiene, infelizmente, você encontra até mesmo em restaurantes que cobram caro por seus produtos. Mas, na rua, podemos atentar a alguns detalhes que podem, literalmente, salvar nossas vidas: os produtos utilizados têm um local adequado de condicionamento? Ou ficam expostos até a hora do consumo? A aparência do vendedor pode dizer muito sobre sua preocupação com higiene. Dificilmente alguém com unhas compridas e mãos sujas vai servir um alimento isento de riscos à sua saúde.
Procure saber se o vendedor tem licença para vender seu produto na rua, se há fiscalização periódica e se aquele local possui algum “histórico”. Em geral, se o vendedor está no mesmo ponto já a algum tempo, significa que ninguém morreu ingerindo seus produtos, o que é bom sinal, não?
Existem comidas de rua em todo o mundo, e algumas são realmente imperdíveis. O acarajé na Bahia, peixe com batatas fritas na Inglaterra, costelinhas de porco na Jamaica, churrasco no Kansas, insetos(!!!) em alguns países do Oriente, como na China e na Coréia do Sul que, por sinal, dizem vender excelentes carnes de cachorro...se você tem estômago forte e é livre de preconceitos, não deixe de provar essas iguarias, pois fazem parte da cultura de cada povo e são o orgulho de sua gente. No Texas, cascavéis são vendidas em barraquinhas, existindo até mesmo um concurso que premia o maior comilão deste tipo de cobra!
E aí, vai encarar?!?

Em Israel, predominam os vendedores de falafel. Em Sarajevo, Bósnia, você encontrará facilmente barracas de cepavi, que são linguiças de carne moída apimentadas, grelhadas na churrasqueira e servidas com uma espécie de pão árabe, o somum. Em Marrakesh, no Marrocos, as barracas vendem tajines, kebabs, vegetais e saladas diversas. Na França, a cidade de Rocamadour é famosa pelas barracas de queijo. Na Hungria, em Vecsés, a estrela do cardápio de rua é o repolho. Em Yokohama, Japão, sorvete dos mais variados sabores (mesmo: você encontra sorvete de língua de boi, sorvete de caviar, de curry indiano, de siri, cobra, polvo, camarão, enguia, ostras e até cavalo!) são vendidos nas ruas.
Vai um espetinho de gafanhoto aí, doutor??
Enfim, cada localidade tem suas especialidades, e vale a pena conferir. Prepare seu estômago, encha a mochila de sal de frutas e prepare-se para experiências gastronômicas únicas! E depois me conte foi, ok?

terça-feira, 8 de março de 2011

ÀS MULHERES, MEUS PARABÉNS, E FLORES....

8 de março, dia internacional da mulher! Àquelas que nos dão a vida e uma razão prá viver, meus mais sinceros parabéns, e flores para vocês, afinal não poderia deixar passar a data em branco...
Já é tradição, neste dia, a distribuição de flores no comércio em geral e em especial nos restaurantes. Um gesto simpático, afinal, que mulher não gosta de receber flores? Você muito provavelmente já ouviu dizer que existem flores comestíveis, mas quando foi a última vez que você degustou uma deliciosa pétala de camomila? Faz tempo? Nunca? Nesse dias das mulheres, o assunto não poderia ser outro. E, além oferecer rosas para as mulheres de sua vida, aproveite a ocasião e as surpreenda com lindos pratos adornados por saborosas pétalas e flores. Mas atenção: não é toda flor que pode ser consumida, algumas são tóxicas e podem até ser fatais! Nada de pânico, porém. Vou listar algumas flores que você pode comer sem medo, que vão ficar lindas em seu prato. 
v  Amor Perfeito: a flor tem um sabor um pouco ácido, e as pétalas um suave sabor adocicado.
v  Calêndula: Lembra o açafrão (ou a nossa cúrcuma), dá um visual avermelhado-dourado aos alimentos, e tem sabor um pouco amargo e picante. È mais usada mesmo como corante.
v  Camomila: essa você conhece, não? As pétalas têm sabor de maçã doce, e as flores, também comestíveis, podem causar alergia em algumas pessoas...
v  Capuchinha: uma das mais famosas flores comestíveis, tem sabor que lembra o agrião!
v  Cravina: deve-se tirar a parte branca da base da pétala, que é muito amarga. As pétalas têm sabor apimentando que lembram o cravo-da-índia. O Chartreuse, conhecido licor francês, tem nas pétalas de Cravina um dos seus ingredientes “secretos”.
v  Gerânio: o sabor de suas pétalas é quase igual ao seu odor, lembrando limão e menta.
v  Girassol: assim como a camomila, apenas as pétalas são comestíveis, e o pólen pode causar alergias. As pétalas têm sabor agridoce, e seu amargor pode ser reduzido passando-se as pétalas ligeiramente no vapor d’água.
v  Petúnia: as flores são usadas como guarnição, e as pétalas têm um suave sabor floral.
v  Violeta: suas pétalas têm sabor doce e perfumado. Podem ser consumidas frescas ou ainda cristalizadas em açúcar.
Existem diversas outras (dentes-de-leão, flor de cebolinha, flor de abóbora, hibiscos, lavanda, etc.), e algumas você com certeza consome em seu dia-a-dia, como o brócolis, a couve-flor e a alcachofra, que são também flores comestíveis. Na Inglaterra, nos tempos da rainha Vitória (seu longo reinado durou de 1837 a 1901), as senhoras inglesas preparavam um sofisticado prato com pétalas de rosas cristalizadas. As pétalas de rosas eram cobertas com clara de ovo e água e polvilhadas com açúcar na hora de servir.
Sobremesa inusitada: pizza de pétalas de rosas cristalizadas!!
Mais uma vez, vale o recado: nem todas as flores são comestíveis, e na dúvida NÃO COMA! Azaléia e bico-de-papagaio, nem pensar! São VENENOSAS! Atenção também ao tratamento dado às plantas: elas devem estar isentas de agrotóxicos e seu cultivo deve ser orgânico. Existe um selo de certificação de Agricultura Orgânica que pode facilitar na hora da escolha das flores para o consumo.
Prove! Seus pratos vão ficar lindos, e você ainda pode comer a decoração! Tente! Bom apetite!