Alalaô ô ô ô ô ô...mas que calor ô ô ô ô...CHEGA! Se você é daqueles que (como eu) não se empolgam muito com a bagunça do carnaval e prefere um programa mais tranquilo, resolvi listar algumas opções ligadas à gastronomia para que seu carnaval seja, pelo menos, mais saboroso, culturalmente falando. Existem dezenas (quem sabe centenas, milhares?) de filmes que têm na gastronomia, se não a personagem principal, uma coadjuvante deliciosa. Livros, idem.
Começando pelos livros, vou reproduzir um pequeno trecho de uma obra de Menotti del Picchia, intitulada “Um Drama”, que li há pouco tempo, e não trata sobre gastronomia, mas sobre dois cavalheiros (um é advogado e o outro, misterioso...não posso revelar para não estragar a história!) que, por força do destino, precisam dividir um quarto de hotel em São Paulo, pois todos os leitos da cidade estavam ocupados devido aos dias festivos do reinado de Momo. Já é tarde da noite. O homem, chamado Borges, está na batente da janela, olhando a multidão se divertindo na rua lá embaixo, e Felix, o advogado, deitado na cama, tenta levar uma conversa cordial com o desconhecido.
“_Esses idiotas estão se divertindo – rosnou ele sem se voltar para Felix. – O senhor gosta de carnaval?
_Detesto-o.
_Eu também.
Voltou-se para o advogado e permaneceu encostado na janela. Sua voz parecia agora um pouco gutural.
_A alegria dos outros somente é suportável quando a ela podemos somar um pouco da nossa. Isso é resultante do egoísmo, mas a condição do homem é ser egoísta. Não acha? Quando não participamos da alegria dos outros, essa alegria causa-nos inveja. Irrita-nos. Há uma discordância entre nossos nervos e o que está fora de nossos nervos...
_Tem razão.
_Os outros deviam pedir-nos licença para ficar alegres...
Riu. Felix sentiu um arrepio. Ele era um tipo lógico, mas era singular. Inteligente. Bizarro. Borges tornara-se de novo austero. Nesses instantes irradiava uma estranha solenidade, e possuía qualquer coisa de ascético, de sacerdotal.”
Menotti del Picchia: leia mais sobre sua vida e obra. |
Calma. Não sou assim (tão) ranzinza, não chego ao ponto de achar a alegria alheia insuportável. Pelo contrário, adoro estar cercado de pessoas alegres e divertidas. Ficou curioso com o desenrolar da história? Pois aproveite esses dias de ócio e leia, se não esta, outra história qualquer. Mas vamos à gastronomia, que presumo ser do interesse dos leitores deste blog...
Alguns livros interessantes sobre gastronomia, que você conseguirá facilmente ler durante os quatro dias de algazarra:
v De Caçador a Gourmet – de Ariovaldo Franco, Editora Senac. É praticamente um livro de história da evolução do alimento e da gastronomia. Deveria ser obrigatória sua leitura nas faculdades de gastronomia. Interessante e envolvente.
v A Pátria nas Panelas – de Pedro Cavalcanti. Editora Senac. História e receitas da cozinha brasileira.
v Chame o Chef !– edição brasileira por Luciana Fróes. Ediouro. Obra da qual peguei emprestado o título para o blog, conta pequenos casos e desastres gastronômicos do Brasil e do mundo. Saborosas histórias narradas pelos próprios chefs (entre eles: Jamie Oliver, Rogério Fasano, Claude Troigros, Roberta Sudbrack, Tom Colicchio...) Muito bom! Vale a pena comprar, ler e reler várias vezes.
v Viagens Gastronômicas – da National Geographic. Bom, é da National Geographic. Dizer mais o quê?!?
v Porca Memória – de Hasier Etxeberria e Davis de Jorge. Editora Senac. Dois bascos espanhóis que se uniram para escrever esse divertido livro. Faz referência aos maiores chefs do planeta, com histórias hilárias.
v Cozinha Confidencial – Anthony Bourdain. Companhia das Letras. Imperdível, narra as aventuras do autor até tornar-se um dos maiores chefs do mundo. Livro de cabeceira! Você com certeza vai sentir vontade de se tornar um cozinheiro após ler o livro!
Tá bom, você prefere ver um filme? As opções são inúmeras! Vou citar apenas alguns, sem nenhum critério de preferência, certo? São todos ótimos para se afundar na poltrona e devorar pipocas enquanto o samba rola solto pelas ruas...
v A Festa de Babette – Quando fica sabendo que ganhou uma fortuna na loteria, Babette, que trabalha como faxineira e cozinheira em um vilarejo na Dinamarca, resolve dar um banquete que se tornará inesquecível. Clássico!
v Ratatouile – Simpática animação, encanta adultos e crianças. Divirta-se com as aventuras do talentoso ratinho Remy e do ajudante de cozinha Linguini. Se tiver crianças em casa, essa é sua pedida.
v Vatel – com Gérard Depardieu e Uma Thurman em excelente forma, conta como Vatel (François Vatel, cozinheiro famoso a quem se atribui a invenção do chantilly – sua vida daria outro filme), em 1671, prepara um suntuoso e fantástico banquete para o rei Luis XIV. Fantástico em todos os detalhes.
v Estômago – filme nacional que narra a história fictícia de Raimundo Nonato, que, graças às suas habilidades no fogão, ganhou respeito na prisão, onde era conhecido como “Alecrim”.
v La Grande Bouffe (A Comilança, em português) – Este filme com Marcello Mastroianni, de 1973, é polêmico e de difícil digestão. Quatro amigos fazem um pacto suicida: comer até morrer! Hein?!? Tirem as crianças da sala...
Como viram, opções não faltam para fazer da festa de Momo uma grande oportunidade para você se divertir. Existem ainda muitos outros livros e filmes, alguns mais moderninhos, mais açucarados, outros com pimenta de sobra...Aproveitem a época porque, como sabem, é agora que o ano começa neste abençoado país...boa diversão, bom carnaval!!
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