Começo
esse texto desculpando-me pela longa ausência e torcendo para que este hiato literário-gastronômico
no blog não os desestimule a lê-lo. Agradeço pelo apoio daqueles que continuam
incentivando essa iniciativa deste humilde blogueiro com palavras de apoio e
que me fazem retomar o projeto “Chame o Chef”.
Sem
mais delongas, vamos ao que interessa: gastronomia. E o assunto não poderia ser
diferente: nesta época em que só ouvimos falar de Copa das Confederações e Copa
do Mundo, nada melhor do que conhecermos a culinária dos países participantes.
Afinal, a gastronomia característica de cada país é a fatia mais saborosa de
sua cultura, concordam? E, como até agora apenas um país está classificado para
disputar a Copa do Mundo no Brasil (com a exceção óbvia da nossa seleção,
anfitriã do evento), é sobre a culinária deste país que escreverei hoje: o
Japão.
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A capital japonesa, Tóquio. Espetacular! |
Muito
já se falou sobre a habilidade fantástica dos japoneses em unir o tradicional
com o novo, a tecnologia aliada a hábitos milenares. Na gastronomia, não poderia
ser diferente. A recente onda de comidas “fusion” tem na culinária japonesa uma
de suas principais fontes de inspiração, tanto nos ingredientes como na maneira
de prepará-los e servi-los.
Quando
pensamos em gastronomia japonesa, logo vêm à mente dois ingredientes básicos, o
arroz e o peixe, e um utensílio principal, o hashi (aqueles “pauzinhos”
utilizados para comer qualquer prato japonês, com exceção das sopas, onde o uso
de colheres se faz – naturalmente - necessário).
Um
aspecto fascinante da culinária do Japão é a beleza na apresentação dos pratos.
É uma beleza simples, com produtos frescos, sazonais, respeitando-se a estação
do ano e a safra de cada alimento, pedaços pequenos (para poderem ser
degustados com o hashi sem o auxílio de facas), realçando o aspecto natural dos
ingredientes. Outro aspecto interessante é o ponto de cocção, entre o cru (ou
totalmente cru) e o cozido, sem nunca atingir o ponto máximo de cocção. A
comida é servida entre o crocante e o cozido, sempre respeitando seu formato e
estrutura.
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Tsukiji Shijo, em Tóquio, o maior mercado de peixes do mundo |
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Nigiri-zushi |
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Sashimi |
Para
realçar o frescor dos peixes vendidos nos mercados, estes são vendidos ainda
vivos (com exceção dos marlins e do gigantesco atum vermelho – um único
exemplar deste último pode chegar a centenas de milhares de dólares, e não raro
um único animal é comprado por três ou quatro restaurantes, num sistema de
“vaquinha” – que chegam congelados aos mercados) e, apenas depois de concluída
a compra, é que eles serão abatidos e deixados para sangrar ali mesmo. As
técnicas japonesas mais populares mundialmente preparadas com peixes são o sashimi, o sushi e o tempura – esta
última, uma técnica de fritura relativamente recente, chegada pelos jesuítas a
pouco mais de cem anos mas já perfeitamente incorporada à gastronomia da terra
do sol nascente.
O
sashimi é, em si, uma arte.
Verdadeiras obras-primas são preparadas com o auxílio de afiadíssimas – e
caríssimas – facas feitas em liga de aço, e seus “autores”, conhecidos como sushiman, são famosos e reconhecidos em
todo o país. O preparo do sushi é
amplo e pode ser feito de diversas formas diferentes, destacando-se o Nigiri-zushi, o Maki-zushi e o Oshizushi, sendo o primeiro o mais simples e conhecido: peixes,
camarões ou mariscos crus são colocados sobre porções de arroz compactado. Em
tempo: Niguri significa moldado à
mão.
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O hashi. Não daria para comer o nosso arroz soltinho, certo? |
O
arroz, onipresente nas mesas nipônicas, é, de fato, mais “empapado” do que nós,
ocidentais, estamos acostumados. Mas isso tem uma explicação. É também para ser
degustado com o hashi, e seria muito difícil – e cômico – tentar comer o nosso arroz
soltinho com aqueles pauzinhos, concorda? Sendo o Japão uma ilha (na verdade,
um arquipélago), é compreensível que os peixes tenham destaque na alimentação
de seus habitantes (é o país onde mais se consome peixe no mundo), mas é de se
espantar que áreas enormes de terra sejam utilizadas para o cultivo do arroz, já
que as terras para cultivo são escassas, uma cultura milenar e impressionante.
Além do arroz, o campo também oferece outros produtos, como o missô, legumes e
hortaliças. A presença marcante dos vegetais tem explicação na forte influência
de correntes religiosas como o budismo e sua busca eterna pela harmonia com a
natureza, resultando em uma alimentação simples e de respeito profundo pelos
animais.
Durante
alguns períodos da história do Japão, o consumo de carne foi proibido, mas ela
também aparece nos cardápios japoneses, principalmente a de frango e a de
porco, base de alguns tipos de espetinhos conhecidos como yakitore e de outras preparações. A carne bovina aparece em pratos
como o sukiyaki e o shabu-shabu, ou são preparadas no tepanyaki,
uma enorme chapa em torno da qual sentam-se dezenas de convivas enquanto um
cozinheiro prepara refeições completas com legumes, mariscos, peixes e, em
ocasiões especiais, a carne mais famosa do Japão: a carne de Kobe, proveniente de animais cuja
alimentação é feita a base de cerveja e frutos secos. Estes animais são
massageados diariamente para facilitar a penetração da gordura na carne,
resultando em um produto macio que atinge cotações estratosféricas. Por esta
razão, é categoricamente proibida a retirada destes animais do país.
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A famosa - e caríssima - carne de Kobe |
De
maneira geral, esta é gastronomia japonesa. Claro que podemos nos aprofundar
nesse assunto, resultando não em um mero texto do blog, mas num livro inteiro.
O sushi, por exemplo, tem tantas variações que seria necessário um texto
específico para ele. Claro, se vocês leitores se interessarem pelo assunto,
farei a parte que me cabe neste latifúndio, com muito prazer: escreverei sobre
eles. Basta vocês pedirem, combinado? Escrevo este texto momentos antes do jogo
inicial da Copa das Confederações, onde nossa seleção canarinho enfrentará a
seleção japonesa. Palpite, não darei, mas que dá um friozinho na
barriga...ainda mais depois que nosso Zico ensinou-lhes alguns truques e manhas
para esse povo incansável e obediente, e que com toda propriedade tornou-se a
primeira seleção a classificar-se para a Copa do Mundo do ano que vem.
Boa
sorte, Brasil, que eu vou preparar meu sushi e tomar minha caipirinha de saquê!
Banzai!
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