Uma
das minhas lembranças de infância é daquelas cenas em que nunca estive
envolvido pessoalmente, in loco, mas
realmente gostaria de ter participado. Moe, Larry e Curly estavam irreconhecíveis
debaixo de toneladas de tortas levadas em suas faces engraçadas, e continuavam
atirando tortas uns nos outros. Eu adorava os Três Patetas! E o Gordo e o Magro! E os Trapalhões!
Quantas risadas eu não despejei em frente à televisão quando Didi e sua trupe
transformavam a minha incólume moral ingênua de adolescente em puro gargalhar. Sempre
me perguntava se aquelas tortas eram verdadeiras, se eram saborosas. Eu queria
estar no lugar do sujeito que tinha levado uma torta na cara (claro, se a torta
fosse gostosa...). Quando eu via uma torta na geladeira de casa, logo me vinha
a ideia de fazer a minha própria cena de comédia pastelão, mas a imagem de
minha mãe nervosa com o resultado de minhas peripécias rapidamente me faziam
voltar à realidade.
Olha a torta!! |
Atualmente alguns políticos também viraram alvos de tortas. Que desperdício, hehehe |
O
engraçado é que, fora do ambiente gastronômico, quando ouvimos a palavra “torta”
é geralmente no sentido pejorativo. “A moral daquele político é torta”, “Aquela
pessoa tem uma visão torta da realidade”, “o cara não sabe o que o faz, está
atirando à torto e à direito”. São expressões que não dignificam essa deliciosa
iguaria culinária, a torta. Ah, a torta. Isso sem falar no grande craque de
futebol que nós, brasileiros, temos que reverenciar com orgulho, o “craque das
pernas tortas”. Salve, Garrincha!
Todos
gostam de torta, e por uma simples razão: não tem como não gostar de torta! Você
pode fazer torta de tudo, de qualquer coisa, de qualquer tamanho, doces e
salgadas, abertas ou fechadas, de sabores diversos e deliciosos. A massa pode
ser grossa, fina, podre (calma...massa podre é o nome que se dá à massa das
empadinhas, que nada mais é do que uma mini-torta, talvez a mais popular nas
festinhas de aniversário pelo Brasil), pode ser uma massa úmida, ou uma mais
seca, pode ser feita no forno ou liquidificador...às vezes, nem em um nem em
outro. E os recheios? Coloque frango, ou palmito, ou frango com palmito,
ervilhas, milho, azeitonas, aspargos, cebola, pimentão vermelho, carne
desfiada, camarão, catupiry, chocolate, amêndoas, calabresa, presunto, queijo,
salsicha...a lista não tem fim!
Torta Holandesa |
Em
algumas culturas, as tortas são legítimas representantes da gastronomia local,
como a Apple Pie (torta de maçã) nos Estados Unidos, a Butter Tart (feita com
manteiga, ovos, açúcar, xarope e massa folhada) no Canadá e o Pastel de Choclo
(que, apesar do nome, é uma torta) no Chile. Nos Estados Unidos, inclusive, é
comemorado, em 14 de março, o dia da torta. Mas essa é uma história curiosa. Na
verdade, no dia 14 de março é comemorado o “Dia do Pi” (lembra-se do “Pi”,
aquela constante matemática que é igual a 3,1415926535...? Pois é, os
americanos comemoram o Dia do Pi). Nos EUA, para escrever datas, coloca-se o
mês na frente do dia, portanto, 14 de março (14/3) é escrito 3/14. Da cabeça de
algum americano louco por ciências exatas, o “Pi” (eu procuro aqui no meu
teclado mas não encontro o símbolo que o representa...), que vale
3,14....começou a ser celebrado no dia 3/14. E então, da cabeça de algum outro
americano ainda mais maluco, neste dia começou-se a celebrar também o dia da
torta. Por quê? Porque as pronúncias de “Pi” e “Pie” (torta, em inglês) são
idênticas. Coisa de americano...
Uma torta feita para celebrar o "Dia do Pi" |
Existe
uma massa básica de torta que você pode utilizar para tortas salgadas e doces
(neste último caso, acrescenta-se açúcar), chamada pâte brisée. Essa massa, versátil e saborosa, pode ser utilizada
para quiches, flãs, tortas, empadões e, se agregadas (“agregar” é a palavra da
moda em gastronomia) com açúcar, passa a se chamar pâte sucrée. Veja como é simples:
200g
de farinha de trigo peneirada
1
colher (chá) de sal
100g
de manteiga sem sal, em cubos
1
ovo
Cerca
de 2 colheres (chá) de água
Misture
a farinha e o sal. Junte a manteiga esfregando com os dedos. Junte então o ovo
e água apenas o suficiente para dar liga. Não trabalhe demais a massa para não
endurecê-la. Enrole em filme plástico e leve à geladeira por 30 minutos. Para a
pâte sucrée, basta adicionar 1 colher
de açúcar refinado junto com o sal. Essa receita rende 400g de massa. Fácil
demais! Com essa massa, você pode fazer tortas deliciosas, com o seu recheio
preferido, com o seu toque pessoal. Arrisque-se!
pâte brisée |
O
mundo gastronômico está repleto de tortas famosas, como a Tarte Tartin (uma
delícia!), a Torta Holandesa (outra delícia, que na verdade tem origem na
cidade de Campinas, aqui no Brasil) e a Torta de Santiago. Mas também existem
milhares de receitas apócrifas nos lares mundo afora, nas cidadezinhas do
interior, em Londres e em Juiz de Fora, nas tradições de família, nas cabeças
das vovós e bisavós que fazem a melhor torta do mundo. Mas – você pode perguntar
– existe a melhor torta do mundo?!? Claro que sim! A melhor torta do mundo é aquela
que VOCÊ gosta, uai. Vai correndo perguntar à sua avó se ela tem alguma receita
de torta, ou procura naquele caderninho enfiado no fundo da gaveta do armário
da cozinha. Ou invente a sua, com o que você tiver na geladeira! Seja criativo,
mas não seja – muito – louco. Pense nas combinações de sabores, nas diferentes
texturas de cada alimento, nas cores que saltarão aos olhos! E bom apetite! E,
se precisar de ajuda, não se acanhe: Chame o Chef!
Mané Garrincha, o craque das pernas tortas! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário