quinta-feira, 27 de junho de 2013

COMENDO EM NOVA YORK

NY: é fácil se apaixonar por ela!
Como em toda grande metrópole do planeta, como Tóquio, São Paulo, Cidade do México, Xangai, entre outras, Nova York apresenta o que há de melhor na gastronomia mundial. As influências vêm de todas as partes do mundo, unindo-se e criando uma culinária espetacular e vibrante. Quer comida italiana? Vá ao Litlle Italy, bairro recheado de – bons - restaurantes italianos. Chinesa? Chinatown é logo ali. Brasileira? Churrascarias rodízio, como as da rede Fogo de Chão, são a nova sensação. Francesa? Mexicana? Tailandesa? Árabe? Tem, tem tudo isso e muito, muito mais. E a qualquer hora do dia. E da noite também.
É bem verdade que o povo americano, em grande parte, não se alimenta bem e é, em grande parte, obeso. Mesmo. Culturalmente, é um povo que come mal, à base de hambúrgueres e batata-frita, desde crianças. Ao meu lado, no avião que voava de Newark, Nova Jersey, para Dallas, Texas, tive o desconforto de ser acompanhado por um rapaz que deveria, sinceramente, ter comprado duas poltronas para repousar seu corpanzil nessa cansativa viagem. Eu, com meus 1,84m de altura, e ele, mais alto e muito mais largo do que eu, viajamos praticamente imóveis, estáticos, ele na janela (com um saco de salgadinhos na mão enorme) e eu no corredor, espremido entre o braço da poltrona e meu vizinho gigante. Meu temor era de que meu companheiro de assento precisasse ir ao banheiro em algum momento do trajeto, o que, felizmente, não aconteceu.
A triste realidade americana...
Em recente viagem com minha esposa à terra do Tio Sam, pude provar do melhor – e do pior – do que esta cidade tem a oferecer em termos gastronômicos. O pior, é claro, são aqueles hot-dogs sem graça, apenas pão e salsicha, nem sempre quente. São Paulo tem muito a ensinar no quesito “cachorro-quente” à Big Apple. O melhor, os sensacionais Food-Trucks, as comidas de rua (excluindo-se aí os hot-dogs, que, sinceramente, não merecem ser provados), o restaurante The View e os bares que servem, invariavelmente, cozinha Tex-mex (nachos, burritos, tacos, guacamoles, etc.) em porções escandalosamente generosas – taí outra razão para a obesidade americana. Por que as porções (os appetizers) precisam ser tão imensas? Porções que poderiam servir a três ou quatro pessoas são devoradas por um único indivíduo, sempre acompanhadas de espumosas (e deliciosas) cervejas – e isso, confesso, eu adorei...
Se você for para Nova York (nuca sei se devo escrever New York ou Nova Iorque, então misturei tudo, criando uma fusion-world...), você PRECISA conhecer ao menos um dos fantásticos Food-Trucks, caminhões especializados em determinados tipos de culinária que rodam a cidade, estacionando cada dia num local diferente e que são acompanhados por clientes fiéis, que “descobrem” o itinerário de cada caminhão pela internet. Entre no site http://nyctruckfood.com/ e escolha o seu caminhão favorito. Quer algumas dicas? Procure o Bistro Truck (http://www.bistrotruck.com/), dirigido (literalmente) pelo marroquino Yassir Z. Raouli e especializado em comida marroquina (claro...) e mediterrânea em geral. Outra boa pedida é o Patacon Pisao (http://www.pataconpisaonyc.com/), especializado em comida venezuelana (?!?!). No site da New York Food Truck Association ( http://www.nycfoodtrucks.org/members) você encontra dezenas de caminhões membros desta associação, e vale muito a pena conferir. Eu e minha esposa comemos no The Roadside Grill, que estava estacionado entre o Museu de História Natural e o Central Park. Sua especialidade: comida árabe. Eu provei um sanduíche de kebab, gostoso mas nada sobrenatural, ao contrário do fabuloso lanche de falafel saboreado pela minha esposa, este sim, do outro mundo!
O The Roadside Grill, estacionado em frente ao Museu de História Natural
O Bistro Truck, estacionado em alguma das belas avenidas de Manhattan
Nosso primeiro dia em Nova York foi uma tormenta. Uma chuva intensa, um frio de fazer lacrimejar até a estátua de Abraham Lincoln, nos fez retornar à Newark, onde estávamos gentilmente hospedados na casa de meu cunhado. Foi sair da Pennsilvania Station, no subsolo do Madison Square Garden, respirar o ar gélido e sentir as gotas de chuva transformando-se em gelo ao tocar nossas peles e nos decidir pelo retorno à New Jersey, logo ali ao lado. Lá, o frio era menos intenso, não chovia e, no caminho para casa, um restaurante português no caminho nos aliviou a fome. O nome do local: Titanic. Depois de toda a chuva e frio de rachar iceberg que tínhamos acabado de enfrentar, comer em local chamado Titanic talvez pudesse ser um sinal de mau presságio. Não foi. Boa comida, bom vinho, atendimento excelente (em português) e ambiente agradável. Fica aqui outra dica: conheça a maior quantidade de restaurantes que você conseguir. Sempre haverá o risco de cair em uma armadilha gastronômica, mas as boas surpresas compensam as ruins, assim penso eu.
O interior do restaurante Titanic: boa surpresa em Newark!
Detalhe do teto do Titanic
No dia seguinte à minha chegada, vejam só a feliz coincidência, estava sendo comemorado o Saint Patrick’s Day, santo padroeiro da Irlanda, festa comemorada com muitos appetizers e muita, mas muita cerveja. Não fui ver a parada nas ruas porque estava um frio de trincar a alma (como é linda a Big Apple com neve...), mas conheci alguns bares onde se comemorava (ou, como dizemos por aqui, se bebemorava) a festa de São Patrício. Um clima pacífico, alegre, e de onde, sempre que fazíamos menção de sair do local, éramos abordados por desconhecidos com frases do tipo “Já vão embora?”, “Fiquem mais um pouco!” ou “Tomem mais uma com a gente!”. Fica aqui outra dica: escolha bem a época que você vai conhecer Nova York, o melhor (eu acho) é no início da primavera, quando ainda dá para pegar uma neve no Central Park sem morrer congelado. Mas, mesmo assim, o frio é intenso. Prepare-se.
Restaurante lotado no Saint Patrick's Day: haja cerveja!
Mas, gastronomicamente falando, nossa viagem ficou completa com uma visita ao restaurante The View, em plena Times Square (faça sua reserva: http://www.theviewnyc.com/). Situado no 48º andar do Hotel Marriot, o restaurante oferece uma vista deslumbrante de Nova York. E, detalhe mais do que charmoso – se é que podemos chamar isso de um mero “detalhe”: o andar é giratório, a vista vai mudando a cada garfada deglutida e gole de vinho degustado. Cuidado ao ir ao banheiro: quando você retornar, sua mesa não estará mais no local onde você a deixou, e isso não é o efeito do vinho girando na sua mente. A comida servida foi muito boa, não maravilhosa (o Tiramissú servido na sobremesa, apesar de lindo, deixou um pouco a desejar), mas a experiência foi fantástica. E nada se compara à sensação de, ao sair do restaurante, você estar na deslumbrante Times Square, ponto turístico imperdível de Manhattan, com suas luzes piscantes, outdoors brilhantes, pessoas de todo o mundo e personagens da ficção fazendo poses para fotografias. Atenção: se você não quiser arrumar confusão, é necessário dar uma gorjeta (tip) aos tais personagens para tirar suas fotos, ou você corre o risco de ver um simpático e sorridente Mickey Mouse proferindo palavrões em alto e bom tom, isso quando eles não partem para as vias de fato. Não vale a pena estragar sua viagem.
O salão do The View, no 48º andar do Marriot. Vale a visita!
A entrada escolhida no The View: simples, linda e deliciosa!
O meu prato principal: carne no ponto perfeito, preparada com o mesmo vinho que pedimos para beber. Fica a dica!
O prato de minha esposa: um duo delicioso de carne de porco. 
Este que vos escreve e a vista girando...
A sobremesa: um bom Tiramissú.
Se você tiver tempo (duas ou mais semanas, pelo menos), vale descobrir outros endereços. Alguns dos lugares que eu não pude conhecer, mas que certamente farão parte de minhas próximas visitas à capital do mundo ocidental:
·         New York Dinner Cruise: com duração de aproximadamente 3 horas, trata-se de um cruzeiro-jantar, navegando pelo Rio Hudson, com direito a paisagens como a Estátua da Liberdade e a fantástica vista dos arranha-céus de Manhattan à noite. O serviço é de buffet, com direito a DJ e pista de dança para os mais animados. Informe-se também sobre os pacotes especiais “Romance no Rio” e “Primeira Classe”; Reservas:
           Crown: restaurante italiano situado em um casarão dos anos 30. 24 East 81st Street, tel. (646) 559-4880;
·         Daniel: cozinha francesa requintada – e cara. Seu proprietário é Daniel Boulud, o famoso chef. Apesar do charme das mesinhas na calçada, prefira sentar lá dentro. 60 E da 65th ST. entre Madison e Park Ave. Tel. (212) 288-0033;
·         Adour Alain Ducasse: caríssimo, mas, se você puder pagar, compensa. Localizado no Hotel St. Regis, seu proprietário, Alain Ducasse, dispensa apresentações. Inesquecível! 2 East 55th Street. tel. (212) 710- 22 77) Metrô: 5th Ave - 53rd St, E,V;
O salão do restaurante de Alain Ducasse no st. Regis
·         Hale and Harty: Gostoso e barato, tem diversos endereços em NY. Saladas, sanduíches e sopas, perfeitos para o clima frio. 47th St.com Madison, Rockefeller Center, 54th St. com Lexington, entre outros endereços;
·         DB Bistro Moderne: mais uma casa de Daniel Boulud, é um bistrô francês em Nova York. 55 W  44th St, entre 5ª e 6ª Ave., perto dos teatros. Tel. (212) 391-2400;
·         La Silhouette: restaurante francês, caprichado e com preços bem razoáveis. Mais de 150 opções de vinhos.  362 West 53rd Street, tel. (212) 581.2400;
·         Masa: o restaurante mais caro de NY, que, dizem, serve o melhor sushi do planeta! Com apenas 26 lugares, as reservas devem ser feitas com pelo menos dois meses de antecedência. Vale? Vale! Três estrelas no Guia Michelin não é para qualquer um...10, Columbus Circle. Tel. (212)823-9800;
·         Per Se: do prestigiado chef Thomas Keller, fica no complexo Times Warner, em Columbus Circle, com vista sensacional para o Central Park. 10, Columbus Circle. 4º andar. Tel. (212) 823-9335;
·         Le Bernardin: considerado por muitos o melhor restaurante de pescados da cidade. 155 W 51 St .tel. (212) 554 -1515;
·         ABC Kitchen: trabalha apenas com produtos orgânicos, faz da sustentabilidade seu grande marketing. 35 E18th St. entre Broadway & Park Avenue;
·         La Piscine: localizado no Hotel Americano, fica na cobertura, perfeito para um jantar romântico ao ar livre, céu de estrelas, lua... 518 West, 27th Street, tel. (212) 525-0000;
A vista do La Piscine à noite: de perder o fôlego!
·         Balthazar: localizado no SoHo, você pode encontrar clientes famosos como Winona Rider e Billy Cristal. Com cardápio francês, vive lotado! 80 Spring St. entre a Broadway e Crosby St. Tel. (212) 965-1414;
·         Nobu: famoso por ter entre seus sócios o ator Robert de Niro, que está sempre por lá. Ótima opção para os amantes de sushi. 105 Hudson St. Tel. (212)219 -0500;
De Niro e o amigo Jeremy Irons no Nobu: "are you talking to me?!?"
·         Jo Jo, Le Bilboquet, Loeb Boathouse, Southern Hospitality BBQ, The Wright, Buddakan, Isabella’s, Petrossian, Spiga, Aquavit, Ai Fiori, Gilt, La Grenouille, Lavo NYC, Felidia, Marea, Remi, Rue 57, Robert, Serafina, The Campbell Apartment, Eleven Madison Park, Gramercy Tavern, SD 26, Artisanal Bistrô, The Red Cat, DBGB Kitchen & Bar...CHEGA!!! São muitos endereços, a cidade está lotada de ótimos locais onde você, com certeza, poderá ter uma experiência gastronômica incrível e imperdível!! Pesquise, reserve e deleite-se!  

Nova York está repleta de excelentes restaurantes, anônimos e badalados, grandes, enormes e minúsculos, e você pode fazer sua reserva daqui mesmo, do Brasil. Em alguns, a reserva deve ser feita com meses de antecedência, então a melhor dica é pesquisar bastante e preparar sua viagem com atenção. E divirta-se, porque a cidade é fantástica e vai muito além dos hambúrgueres com batatas-fritas. Que, diga-se de passagem, são sim ótimos. Enjoy!

sábado, 22 de junho de 2013

COMIDA DE PASSEATA

Vem prá rua...mas alimente-se!
Depois de anos dormindo em berço esplêndido, o gigante despertou para uma nova era. Já era tempo, Brasil! Eu assisti de camarote as passeatas pelas eleições diretas, lembro-me perfeitamente de palanques compostos por Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Brizola, Montoro, Suplicy, Fernando Henrique Cardoso, Lula (pois é, quem poderia imaginar...), Mário Lago, o doutor Sócrates, Chico Buarque, entre muitos outros notáveis - e outros nem tanto. Isso é democracia! E me lembro do povo nas ruas, lutando pelo direito de poder votar em seus representantes. Lembro-me da frustração de não termos conseguido, naquele ano, as tão almejadas eleições diretas para Presidente da República. Lembro-me das eleições indiretas que opuseram Paulo Maluf e Tancredo Neves, este último encarnando todas as esperanças brasileiras. E, mais uma vez, a frustração com a morte do recém-eleito Tancredo, a choradeira nas ruas, o hino cantado por Fafá de Belém, a bandeira do Brasil protegendo centenas de pessoas contra a chuva na Capital Federal...
 Eu era novo nesta época – tinha de 12 para 13 anos, mas, anos depois, nas manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, eu estava nas ruas. Já tinha votado para presidente e para um congresso que escreveria uma nova constituição – as passeatas dos anos anteriores não tinham sido em vão, afinal. Lembro-me dos panfletos explicando o que era um impeachment, a estranheza que essa palavra causava aos nossos ouvidos, do ódio e a vergonha que senti por me sentir enganado, afinal, eu tinha votado em Collor no segundo turno – a outra opção seria Lula. Seríamos, então, caras-pintadas de verde e amarelo para tentar retirar do poder o canalha que nós havíamos colocado lá (e que hoje, vejam só, é senador da República...Acorda, Brasil!). Collor convocou a nação a sair vestidos com as cores da bandeira nacional e todos saíram de preto – e, naquela época, não havia facebook nem outra espécie de comunicação em massa. Estávamos todos na mesma sintonia. No dia 29 de setembro de 1992, eu e mais uma dezena – que logo se transformariam em centenas, milhares, centenas de milhares, milhões – estávamos na Avenida Paulista acompanhando a votação no congresso que culminaria com o impeachment do presidente. Desse dia, tenho várias recordações.

Lembro da alegria nos rostos pintados, do aplauso coletivo, dos apitos, da agradável tempestade de papel picado sobre nossas cabeças, do choro alegre que tomou conta de todos nós, do sentimento de que, unidos, jamais seríamos vencidos, do orgulho de ser brasileiro, e me lembro, também, de um sentimento menos nobre: lembro-me de que, naquela hora, eu estava com fome. Muita fome.
Descendo um pouco a Rua Augusta, parei num carrinho de lanche e comi dois cachorros-quentes, que não me foram cobrados pelo vendedor em êxtase. Hoje, nas manifestações, há pouquíssimos carrinhos nas ruas ou comércio aberto ou, se há, são logo fechados com medo das ações criminosas dos vândalos covardes que se aproveitam da multidão para se esconderem e praticarem seus atos imbecis. Naquela época, também houve tumulto, eu me lembro. Mas pelo menos eu pude matar a minha fome. Pensando nisso, resolvi escrever para você, que está indo às ruas defender e lutar por nossos direitos e que, depois de algum tempo, encontra-se faminto no meio de alguma rua com comércios fechados.
Se você tiver uma daquelas bolsas térmicas, perfeito! Embrulhe em papel alumínio um sanduíche de pão de forma integral, recheado com queijo branco, peito de peru, cenoura ralada, um tomate finamente fatiado e uma folha de alface americana. Faça alguns desses lanches e distribua para seus colegas de manifestação! Se você não quiser tão saudável, faça um lanche de salame com queijo provolone num pão francês e embrulhe-o em alumínio (adoro!). Frutas são excelentes. Eu vi na televisão uma senhora em Fortaleza que levava na mochila um frango com farofa, sem nenhum cuidado...aí já é demais! Mas, um salpicão de frango é uma boa. Acondicionar a comida em alumínio e sacolas térmicas é importante para você não comer algo que te pegue de surpresa numa vontade incontrolável de ir ao banheiro – nossas ruas, como sabemos, não têm banheiros públicos, embora muitos façam dela um imenso mictório a céu aberto. Higiene e segurança dos alimentos, em qualquer ocasião.
Em resumo, a comida de passeata é a mesma que você levaria para um delicioso pic nic ao ar livre, lembrando-se de não levar nada que possa se tornar “arma” nas mãos dos mais exaltados, como garrafas de vidro e latas de alumínio. Comidas leves, nada de comidas "com sustância", pesadas, difíceis de serem digeridas. Salgadinhos (melhor escolher os assados), bolachas salgadas e doces, pães de queijo, pedaços de bolos, tortas, frios em geral, tudo é válido. Leve a comida, e leve o lixo de volta para casa. Acrescente na sua cesta um pouco de vinagre, eficaz contra os efeitos do gás lacrimogêneo lançado por alguns policiais nesta que já está sendo chamada de “A Revolução do Vinagre”. Água e suco também ajudam na hidratação e podem te aliviar no calor das ruas efervescentes por mudanças. Quer ser simpático? Leve algumas flores para distribuir. Brade retumbantemente, vá para as ruas, mas seja consciente e alimente-se bem!
Se você tiver um espírito empreendedor, prepare os lanches, embrulhe-os, coloque-os num isopor e vá prá rua ganhar um dinheirinho! Mas cobre um preço justo para não virar você alvo dos manifestantes.
Tomate e ovo, você também pode levar, mas apenas use-os no caso de encontrar pela frente algum ilustre político do naipe de um José Dirceu, Collor, Maluf, Renan Calheiros, Zé Genuíno, enfim, destes maus exemplos que merecem uma recepção “orgânica”.

Não sou nenhum Martin Luther King, mas eu também tenho um sonho: sonho como seria bonito milhares de pessoas sentadas nas ruas e avenidas, com suas cestas de comida (e toalhas bordadas, por que não?!?), oferecendo e trocando comidas entre palavras de ordem! Sonho com a Avenida Paulista transformada num imenso parque, com famílias, amigos e desconhecidos realizando o maior pic nic da história! Sonho com a polícia distribuindo brigadeiros e beijinhos (os doces) ao invés de sprays de pimenta e bordoadas. Sonho com manifestantes comemorando debaixo da chuva de papel de balas ao invés de se desviando das balas de borracha. Enfim, sonho com um Brasil melhor, com um povo educado, culto, honesto. E com uma classe política que finalmente represente seu povo. E sonho acordado, porque o Brasil não pode dormir de novo. Isso não!


quarta-feira, 19 de junho de 2013

AUSTRÁLIA GOURMET

Depois do Japão, a segunda seleção de futebol a se classificar para a Copa do Mundo em terras tupiniquins em 2014 foi a seleção australiana (até o momento que escrevo estas linhas, seleções campeãs mundiais como Argentina, Uruguai, França, Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália ainda não carimbaram o passaporte para nossa Copa Tropical. Questão de tempo, imagino...). E, sendo a Austrália um dos destinos turísticos mais procurados pelos brasileiros, resolvi escrever um texto com algumas dicas de lugares que você precisa conhecer se o seu destino de férias (ou de trabalho, por que não?) for o maior país da Oceania. E que país!
Ultrapassando a barreira dos 5 milhões de habitantes, Sidney é a maior cidade da Austrália (atenção: Sydney NÃO é a capital do país, e sim Camberra. Já me dei mal com uma questão assim num vestibular...) e, como não poderia de ser, oferece uma gastronomia multicultural e fantástica. Restaurantes excelentes se espalham por toda a capital australiana, todavia os melhores se concentram no distrito comercial central, em The Rocks, perto do Cais Circular e no Opera House. Paraíso gastronômico, seus chefs têm em mãos os melhores ingredientes do mundo, como carne proveniente de bovinos alimentados à base de grãos e pasto, cordeiros, aves caipiras, jacarés e, claro, cangurus. Mas, sem dúvida, a marca gastronômica local são os frutos do mar.
Comece seu roteiro gastronômico visitando o Mercado de Peixes de Sidney, em Pyrmont (www.sydneyfishmarket.com.au), que vende peixes e frutos do mar provenientes de toda a Austrália. Obrigatórias são as excursões matinais ao local que acontece às segundas e terças-feiras (é necessário fazer reservas), e ao mercado de leilão holandês. Prove as ostras de Sydney (conhecidas como ostras-da-pedra), os balmain bug (lagostins), as caranhas (caranguejos australianos) e o salmão do Atlântico. No mercado você encontra restaurantes simples e deliciosos de frutos do mar, e uma escola de culinária onde as aulas são ministradas por chefs locais e internacionais.
Nos arredores da ponte do porto de Sydney está o distrito The Rocks, onde você encontrará um restaurante que é referência em frutos do mar há mais de três décadas. Trata-se do Rockpool, do chef Neil Perry (www.rockpool.com). Por ali você também encontra o restaurante Pier (www.pierrestaurant.com.au), que serve, com criatividade e delicadeza, pratos à base de caranguejos, ostras, vieiras e frutos do mar em geral. Prove a lagosta assada com limão kaffir e manjericão e, para completar a experiência, peça um autêntico vinho branco australiano. Se você quiser ousar um pouco mais e degustar uma culinária mais “moderna”, vá ao Tetsuya’s, na rua Kent (www.tetsuyas.com), conhecido por unir ingredientes japoneses preparados segundo a tradição francesa. Imperdível ali é o confit de truta Petuna servido de konbu (alga) e erva-doce. Na praia de Frenchmans, na baía Botany (nos bairros do leste), você poderá provar uma refeição mais simples e tradicional, mas igualmente deliciosa, como o clássico peixe com fritas. Para acompanhar, o pôr do sol do outro da baía tornará sua experiência perfeita e inesquecível.
Salmão servido no Tetsuya's. Belo e saboroso!
Ainda em Sidney, outra parada obrigatória é a Glacé, famosa por suas sobremesas de vanguarda preparadas com sorvete. Entre os ingredientes utilizados, você encontra pétalas de rosa, fava de baunilha, pistache com morango e chocolate belga. Não dá para ser melhor! A Glacé fica na rua Marion, 27, no bairro de Leichhardt. (www.glace.com.au)
Em Melbourne, cidade construída a partir de sucessivas levas de imigrantes gregos, chineses, croatas, italianos, vietnamitas, indianos e libaneses, entre outros, você encontrará mais um paraíso para qualquer apaixonado por gastronomia: o Mercado Queen Victoria (www.qvm.com.au). Alojado numa série de construções antigas no centro da cidade desde 1878, nele podem ser encontradas delicatessens de altíssima qualidade – com bons preços -, e produtos frescos em seus estandes, como queijos, frutas, vegetais, doces e vinhos. O mercado abre às terças-feiras e de quinta à domingo. Verifique os horários e reserve com antecedência uma “turnê” pelo mercado, que dura duas horas e vale bastante a pena. A principal área de comida fica situada no quarteirão entre a Elizabeth Street e a Queen Street. O que você não pode perder ao visitar o Mercado Queen Victoria:
·         O Deli Hall (também chamado de Dairy Produce Hall) é a parte mais aromática do mercado. São dezessete delicatessens e estandes dedicados ao pão, azeite de oliva, queijos, vinhos, massas e café. É a parte favorita entre os visitantes do mercado;
·         A Food Court é o local onde você pode fazer uma refeição mais consistente ou um lanche rápido, e também levar a comida para viagem;
·         O Meet Hall é onde você vai encontrar os açougues e as peixarias, todas de excelente qualidade e
·         A Elizabeth Street Shops, um encantador trecho do mercado repleto de cafés gourmets e vendedores em geral.
Também em Melbourne está localizado o Colonial Tramcar. Trata-se de uma empresa fundada em 1983, que resolveu montar seus restaurantes em elegantes bondes vermelhos das décadas de 1920 a 1940. São revestidos com cobre e veludo e passeiam (com jantares formais incluídos) pelos bairros e pelo centro da cidade. A carne de canguru é destaque no cardápio e, dependendo de quanto você quer jantar, o menu (a preço fixo) oferece três, quatro ou cinco pratos, com bebida incluída. A dica é reservar com meses de antecedência e vestir-se com elegância. (www.tramrestaurant.com.au)
Você não pode sair de Melbourne sem antes conhecer o Titanic Theatre Restaurant. Seu slogan? “O único lugar do mundo onde sua noite tem a garantia de ser um desastre.” Achou estranho? Mas é fantástico! O restaurante recria o último jantar a bordo do Titanic e, vestidos apropriadamente (há serviço de aluguel de trajes), os passageiros, ou melhor, os convivas podem acomodar-se na primeira classe, na terceira ou na mesa do capitão. O Titanic Theatre Restaurant abre aos sábados, fica em Williamstown, a 30 minutos de trem da estação Flinders Street. Para manter o espírito, artistas e músicos não deixam seu jantar naufragar. (www.titanic.com.au)
O restaurante Titanic: sua noite será um desastre, e você vai gostar!
Parte da "tripulação" do Titanic em ação. Descontração e boa comida.
A Chinatown de Manhattan, em Nova York, Estados Unidos, é com certeza o bairro chinês fora da China mais conhecido em todo o mundo (mais até do que os bairros chineses dentro da própria China – ou você sabe me citar algum bairro originalmente chinês?!?). Mas existem Chinatowns em diversas partes do planeta - Vancouver, Havana, Cingapura, São Francisco, Londres, Manchester, Jacarta, entre outras cidades. Na Austrália, você encontra uma espetacular Chinatown em Brisbane . Não é a maior nem a mais antiga Chinatown do mundo, mas é a que oferece, talvez, a maior variedade e qualidade de produtos e ingredientes em um espaço reduzido. A gastronomia chinesa está ali muito bem representada, além de outras cozinhas pan-asiáticas, como a japonesa, a tailandesa, a cingapurense, a da Malásia, do Vietnan, do Camboja e a laosiana. Imperdível para quem curte a exótica gastronomia oriental, mesmo estando em outro continente. (www.visitbrisbane.com.au)
Se você perguntar a qualquer brasileiro qual a vista ideal para apreciar um belo pôr do sol e se refestelar com uma deliciosa refeição, 9 entre 10 dirão: a vista para o mar. Tudo bem, estou chutando esses números, não fiz nenhuma pesquisa a respeito, mas você, se pudesse escolher uma bela vista do pôr do sol e uma excelente refeição, escolheria o belo (mesmo!) skyline das grandes cidades ou um local paradisíaco? Claro que toda vista tem o seu charme, mas, se você é dos que curtem uma visão paradisíaca do oceano, com direito a uma hospitalidade descontraída, seu lugar na Austrália é o The Baths, em Sorrento, Victoria. As antigas termas proporcionam vistas deslumbrantes da baía de Port Philips. O lugar possui uma varanda enorme onde, no verão, os clientes se espalham para apreciar a vista – e a comida, é lógico – e, no inverno, nos dias mais frios, lareiras são acesas do lado de dentro, clima perfeito para degustar a moderna culinária australiana, em sua maioria frutos do mar. O restaurante fica na rodovia Point Nepean, 3278, pertinho do terminal de balsas Queenscliff-Sorrento. (www.thebaths.com.au)
O restaurante The Baths
Mesa posta no The Baths. Bela vista, bela comida!
O vale Barossa (pesquise em www.barossa.com), importante destino turístico australiano, com suas paisagens espetaculares e repleto de vinícolas, é obrigatório para os amantes de um bom vinho. Fica a 64 quilômetros da cidade de Adelaide, e suas estradas arborizadas e serpenteantes (o corretor aqui teima em me dizer que a palavra “serpenteantes” não existe, mas acredito que você deva ter entendido o que quero dizer) por encostas de vinhedos frutíferos –e floridos - são um espetáculo à parte. Entre vinícolas conhecidas em todo o globo, como Wolf Blass e Penfolds, muitas famílias possuem vinícolas pequenas, onde vendem seus produtos e promovem degustações e verdadeiras aulas sobre vinhos. Por exemplo: a Whistler Wines (www.whistlerwines.com) produz apenas 9 mil caixas de vinho ao ano, e 70% desta produção é adquirida pelos visitantes. Aos finais de semana, concertos de música ajudam a atrair turistas, imaginem só a cena: um lugar lindo, ótimos vinhos, música envolvente...quer mais? A casa-sede da família, com teto de zinco e sofás confortabilíssimos, fica aberta o tempo todo, permitindo ainda aos seus visitantes que desfrutem do gramado com guarda-sóis, mesas e cadeiras, onde podem degustar taças do excelente Reserve Shiraz, ou do frutado Audrey May Sémillion. Vida difícil...


Algumas fotos do belíssimo vale Barossa
A Rockford Wines (www.rockfordwines.com.au) ocupa um edifico de uma antiga olaria de 1857, e seu proprietário, Robert O’Callaghan produz vinho a partir das uvas de trinta cultivadores locais que usam métodos manuais com prensas artesanais e equipamentos seculares. Ali é produzido o melhor Shiraz da Austrália e, também, um vinho feito com uma uva não muito conhecida, a Alicante Boushet, que resulta em um tinto rose feito sem cascas – único lugar do mundo onde é encontrado. As vinícolas da região costumam ser generosas em suas degustações – gratuitas – e vendem também tábuas de queijos, aperitivos e vinhos em taças que, não raro, chegam a 15% de teor alcoólico. Melhor ir com algum amigo que não beba...difícil, né?

Então, faça as malas e atravesse o mundo rumo a este sensacional país, de povo acolhedor e que adora os brasileiros. Você vai se divertir, ver belas paisagens, comer (e beber) muito bem, e vai querer voltar. Depois, me conte como foi, combinado?

sábado, 15 de junho de 2013

A GASTRONOMIA JAPONESA


Começo esse texto desculpando-me pela longa ausência e torcendo para que este hiato literário-gastronômico no blog não os desestimule a lê-lo. Agradeço pelo apoio daqueles que continuam incentivando essa iniciativa deste humilde blogueiro com palavras de apoio e que me fazem retomar o projeto “Chame o Chef”.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa: gastronomia. E o assunto não poderia ser diferente: nesta época em que só ouvimos falar de Copa das Confederações e Copa do Mundo, nada melhor do que conhecermos a culinária dos países participantes. Afinal, a gastronomia característica de cada país é a fatia mais saborosa de sua cultura, concordam? E, como até agora apenas um país está classificado para disputar a Copa do Mundo no Brasil (com a exceção óbvia da nossa seleção, anfitriã do evento), é sobre a culinária deste país que escreverei hoje: o Japão.
A capital japonesa, Tóquio. Espetacular!
Muito já se falou sobre a habilidade fantástica dos japoneses em unir o tradicional com o novo, a tecnologia aliada a hábitos milenares. Na gastronomia, não poderia ser diferente. A recente onda de comidas “fusion” tem na culinária japonesa uma de suas principais fontes de inspiração, tanto nos ingredientes como na maneira de prepará-los e servi-los.
Quando pensamos em gastronomia japonesa, logo vêm à mente dois ingredientes básicos, o arroz e o peixe, e um utensílio principal, o hashi (aqueles “pauzinhos” utilizados para comer qualquer prato japonês, com exceção das sopas, onde o uso de colheres se faz – naturalmente - necessário).
Um aspecto fascinante da culinária do Japão é a beleza na apresentação dos pratos. É uma beleza simples, com produtos frescos, sazonais, respeitando-se a estação do ano e a safra de cada alimento, pedaços pequenos (para poderem ser degustados com o hashi sem o auxílio de facas), realçando o aspecto natural dos ingredientes. Outro aspecto interessante é o ponto de cocção, entre o cru (ou totalmente cru) e o cozido, sem nunca atingir o ponto máximo de cocção. A comida é servida entre o crocante e o cozido, sempre respeitando seu formato e estrutura.
 Tsukiji Shijo, em Tóquio, o maior mercado de peixes do mundo
 Nigiri-zushi
Sashimi
Para realçar o frescor dos peixes vendidos nos mercados, estes são vendidos ainda vivos (com exceção dos marlins e do gigantesco atum vermelho – um único exemplar deste último pode chegar a centenas de milhares de dólares, e não raro um único animal é comprado por três ou quatro restaurantes, num sistema de “vaquinha” – que chegam congelados aos mercados) e, apenas depois de concluída a compra, é que eles serão abatidos e deixados para sangrar ali mesmo. As técnicas japonesas mais populares mundialmente preparadas com peixes são o sashimi, o sushi e o tempura – esta última, uma técnica de fritura relativamente recente, chegada pelos jesuítas a pouco mais de cem anos mas já perfeitamente incorporada à gastronomia da terra do sol nascente.
O sashimi é, em si, uma arte. Verdadeiras obras-primas são preparadas com o auxílio de afiadíssimas – e caríssimas – facas feitas em liga de aço, e seus “autores”, conhecidos como sushiman, são famosos e reconhecidos em todo o país. O preparo do sushi é amplo e pode ser feito de diversas formas diferentes, destacando-se o Nigiri-zushi, o Maki-zushi e o Oshizushi, sendo o primeiro o mais simples e conhecido: peixes, camarões ou mariscos crus são colocados sobre porções de arroz compactado. Em tempo: Niguri significa moldado à mão.
O hashi. Não daria para comer o nosso arroz soltinho, certo?
O arroz, onipresente nas mesas nipônicas, é, de fato, mais “empapado” do que nós, ocidentais, estamos acostumados. Mas isso tem uma explicação. É também para ser degustado com o hashi, e seria muito difícil – e cômico – tentar comer o nosso arroz soltinho com aqueles pauzinhos, concorda? Sendo o Japão uma ilha (na verdade, um arquipélago), é compreensível que os peixes tenham destaque na alimentação de seus habitantes (é o país onde mais se consome peixe no mundo), mas é de se espantar que áreas enormes de terra sejam utilizadas para o cultivo do arroz, já que as terras para cultivo são escassas, uma cultura milenar e impressionante. Além do arroz, o campo também oferece outros produtos, como o missô, legumes e hortaliças. A presença marcante dos vegetais tem explicação na forte influência de correntes religiosas como o budismo e sua busca eterna pela harmonia com a natureza, resultando em uma alimentação simples e de respeito profundo pelos animais.
Durante alguns períodos da história do Japão, o consumo de carne foi proibido, mas ela também aparece nos cardápios japoneses, principalmente a de frango e a de porco, base de alguns tipos de espetinhos conhecidos como yakitore e de outras preparações. A carne bovina aparece em pratos como o sukiyaki e o shabu-shabu, ou são preparadas no tepanyaki, uma enorme chapa em torno da qual sentam-se dezenas de convivas enquanto um cozinheiro prepara refeições completas com legumes, mariscos, peixes e, em ocasiões especiais, a carne mais famosa do Japão: a carne de Kobe, proveniente de animais cuja alimentação é feita a base de cerveja e frutos secos. Estes animais são massageados diariamente para facilitar a penetração da gordura na carne, resultando em um produto macio que atinge cotações estratosféricas. Por esta razão, é categoricamente proibida a retirada destes animais do país.
A famosa - e caríssima - carne de Kobe
De maneira geral, esta é gastronomia japonesa. Claro que podemos nos aprofundar nesse assunto, resultando não em um mero texto do blog, mas num livro inteiro. O sushi, por exemplo, tem tantas variações que seria necessário um texto específico para ele. Claro, se vocês leitores se interessarem pelo assunto, farei a parte que me cabe neste latifúndio, com muito prazer: escreverei sobre eles. Basta vocês pedirem, combinado? Escrevo este texto momentos antes do jogo inicial da Copa das Confederações, onde nossa seleção canarinho enfrentará a seleção japonesa. Palpite, não darei, mas que dá um friozinho na barriga...ainda mais depois que nosso Zico ensinou-lhes alguns truques e manhas para esse povo incansável e obediente, e que com toda propriedade tornou-se a primeira seleção a classificar-se para a Copa do Mundo do ano que vem.

Boa sorte, Brasil, que eu vou preparar meu sushi e tomar minha caipirinha de saquê! Banzai!