quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A CHINA É MAIS DO QUE ROLINHOS PRIMAVERA...

Que atire o primeiro hashi aquele que nunca se deliciou com uma refeição de alguns desses disk-comida-chinesa que proliferaram por todo o país a partir do início dos anos 90. Eu adoro. A maneira como são entregues os pratos, em pequenas caixas de papelão, foram uma revelação para mim, acostumado aos sanduiches entregues em caixas de isopor com papel alumínio que acabavam por destruir o gosto do lanche. Comer com os hashis foi um desafio divertido no começo, depois virou uma chateação que substituí pelo garfo por algum tempo, mas reconheço que comer com os tais pauzinhos tem seu charme, assim como aqueles biscoitos da sorte com toda sorte de bobagens escritas. Certas vez estávamos em oito amigos e nossos biscoitos continham exatamente a mesma sorte e os mesmos números da loteria. Se aqueles números um dia forem sorteados, você tem ideia de quantos ganhadores terá essa loteria?!? Isso lá é sorte que se preze?
Brincadeira...isso não acontece num país sério como o Brasil...
A China, você sabe, é um país muito, muito, muito grande, e que tem muita, muita, muita gente. Provavelmente, ao ler esses primeiros parágrafos, mais um milhão de chinesinhos recém-nascidos devem estar chorando, para o desespero dos pais e do governo chinês. Por ser um país tão grande, você sabe o que pode ser encontrado em sua culinária: tudo, claro. De frutos tropicais a mariscos secos, produtos simples e outros impressionantes e improváveis. Barbatanas de tubarão, patas de urso, vísceras de rã, insetos, ninhos de andorinha, tudo vira comida na China. Mas nem tudo é assim tão exótico para os padrões ocidentais. Carne de porco, de boi, saladas, frituras, arroz, frango, são produtos muito consumidos pelos mais (muito, muito mais) de 1 bilhão de habitantes do país da grande muralha (que dizem ser a única construção feita pelo homem que se pode avistar da Lua. Verdade ou mito? Uns dizem que é verdade, outros afirmam que não. O que eu acho? Eu queria era estar lá em cima prá conferir...)

A Grande Muralha começou a ser contruída em 221 a.C. Foi concluída no séc XV d.C. Grande,não?!?

Cá, a Lua...acolá, a Terra...mas cadê a muralha?!?!?
Existem pelo menos cinco grandes regiões em que podemos encontrar distintas correntes gastronômicas na China: no noroeste do país, a capital Pequim; no centro, Sichuan; na região sul, fazendo fronteira com a Tailândia, está Yunnan; ao sudeste, ao longo da chamada Costa Dentada na região de Guangdong, está Cantão; finalmente, no litoral oeste, encontramos a culinária típica de Xangai.
A capital chinesa, Pequim, tem como símbolo gastronômico típico o pato laqueado, cuja preparação envolve diferentes ingredientes, de acordo com as estações do ano. Se no inverno ele é servido com nabo, couve e cereais, a primavera fornece ervilhas, abobrinhas, berinjelas e tomates. Qualquer que seja a estação, prove!
Os chineses e seu peculiar modo de preparar o pato...
“Bomba de ação retardada”. Assim é conhecida a pimenta de Sichuan, típica da região de mesmo nome. A gastronomia desta região foi (e é) influenciada pela Índia e outros países do sudeste asiático, sendo as dietas vegetarianas onipresentes, utilizando, por exemplo, o broto de bambu e o dofu (queijo de soja, que no Brasil chamamos de tofu). A generosidade do rio Azul, ou Yang-Tsé, contribui com outras iguarias para a culinária local, como tartarugas, rãs, carpas e caranguejos (além das serpentes, muito apreciadas na China). Yunnan não difere muito da gastronomia de Sichuan, mas o predomínio dos molhos agridoces e da pimenta vermelha é marcante.
Um galo, e sua difícil experiência com a pimenta de Sichuan...
Em Cantão, o predomínio é do peixe, consumido preferencialmente instantes após sua morte (não a sua, a do peixe...). Camarão-tigre, ouriços-do-mar, lagostas, enguias e, claro, peixes, entram no cardápio diário dos habitantes da região, que também utilizam gengibre e sal para condimentar os legumes e produtos tipicamente tropicais, como o café e o coco.
Em Xangai os cozinheiros preferem uma culinária com cozeduras lentas e até pausadas, diferente do que ocorre nas outras regiões do país, prática que resulta em pratos mais saborosos e suculentos. Em Xangai foram “inventados” (seria melhor dizer “descobertos”?) o talharim e o arroz frito, entre outros pratos mundialmente famosos. E antes que você me pergunte “mas e Hong Kong? O que se come em Hong Kong?”, respondo rápido: tudinho. É a cidade mais cosmopolita do país e, assim como São Paulo, Tóquio, Nova Yorque ou São Thomé das Letras, você encontra de absolutamente tudo. Até comida brasileira você acha por lá! Exótico, não?!?

Hong Kong - China
São Thomé das Letras - MG, Brasil
        Nas mesas chinesas não é comum encontrarmos pratos elaborados com grandes pedaços de carne, tampouco com osso. Menos comum ainda de serem encontrados são pratos com peças inteiras de carne cozida. Se você supõe que o motivo de os pedaços de comida (tanto os legumes como as carnes) serem cortados pequenos seria para facilitar o uso dos hashis, saiba que está chinesamente equivocado. A escolha por pedaços pequenos deve-se ao fato de os chineses precisarem cozinhar mais rápido para economizar energia. Com a ajuda de uma wok (uma espécie de panela que, devido ao seu formato, concentra o calor em um único ponto e permite que se cozinhem outros ingredientes mais lentamente e ao mesmo tempo), pequenos pedaços de carne de porco, por exemplo, são cozidos em muito menos tempo – desperdiçando menos energia, ou menos lenha - do que no Ocidente. Apesar do tamanho continental da China, lenha nunca foi um produto abundante no país.


Uma wok, utensílio prático, bonito e eficiente.
        Agora que você sabe um pouco além do yakissoba e do rolinho-primavera, que tal preparar dois pratos típicos chineses que vão fazer bonito em sua mesa? Anote e faça estas duas receitas: Chao dofu e Meng yang rou.  Ou, se preferir: Tofu salteado e Cordeiro frito rápido. Esqueça aquela história que tofu não tem sabor! Cada uma das receitas são suficientes para entre 5 e 6 pessoas,ok? Chame os amigos! Chame o Chef!!
CHAO DOFU (TOFU SALTEADO)
Ingredientes:
·         6 porções de tofu fresco
·         250g de cogumelos shitake (ou cogumelos Paris)
·         4 ½ colheres (sopa) de óleo de amendoim
·         1 xícara de caldo de legumes
·         12 folhas de coentro
·         2 colheres (sopa) de farinha de milho
·         2 colheres (sopa) de molho de soja espesso
·         1 colher (café) de açúcar
·         ½ colher (café) de sal
Modo de Preparo:
Limpe os cogumelos e corte-os em três. Ferva cerca de 1 litro de água, coloque os pedaços de cogumelos e deixe no fogo até que a água volte a ferver. Retire do fogo, dê um choque térmico (passe em água fria), escorra e reserve. Sobre um papel absorvente, escorra o tofu. Numa frigideira de fundo grosso e plano com 3 colheres de óleo, doure o tofu de um lado por cerca de 5 minutos, vire-o e doure o outro lado. Coloque o tofu numa travessa e corte-o em cubos de 3 centímetros. Com o fogo alto, aqueça uma wok com 1 ½ colher de óleo e sal e salteie os cogumelos por 30 segundos. Acrescente o caldo de legumes, a farinha de milho, o molho de soja e o açúcar. Mexa sempre até dar liga no molho e que este ganhe uma cor acastanhada. Despeje sobre os pedaços de tofu e espalhe algumas folhas de coentro por cima. Tá pronto!
MENG YANG ROU (CORDEIRO FRITO RÁPIDO)
Ingredientes:
·         800g de pernil de cordeiro (cortado em filés finos, e depois em tiras)
·         3 claras
·         5 colheres (sopa) de farinha de milho
·         150g de broto de bambu enlatado (cortado em tiras)
·         1 pepino pequeno (cortado em tiras)
·         1 pimentão vermelho médio (cortado em tiras)
·         4 rodelas de gengibre fresco (cortado em tiras)
·         3 echalotes (adivinhou: cortadas em tiras. Echalote é um tipo de cebola, bem pequena. Procure no mercado. Se não encontrar, use a cebola de sua preferência)
·         2 colheres (sopa) de saquê
·         Óleo de amendoim
·         Pimenta-do-reino
·         Sal
Modo de Preparo:
Bata as claras, misture com a farinha de milho junto com uma pitada de sal e pimenta-do-reino (melhor se moída na hora...sempre!) e reserve. Coloque as tiras de carne na mistura de clara e deixe-as lá cerca de meia hora.
Numa wok (sério: se você não tem, precisa ter uma wok. Não é cara, é bonita e uma delícia de cozinhar nela. Se ainda não tem, faça na panela, com cuidado e atenção no cozimento de cada alimento), frite a carne em bastante óleo (bem) quente por um minutinho ou pouco mais, mexendo as tiras ao fritar. Reserve. Deixe apenas umas duas colheres do óleo na wok e, em fogo bem alto, frite as tiras de pepino, pimentão e broto de bambu por 2 minutos. Acrescente as echalotes e o gengibre e frite por 30 segundos, mexendo de vez em quando. Volte as tiras de carne à wok por 1 minuto, ainda em fogo bem alto. Adicione o saquê, mexa até ferver e sirva!

Nenhum comentário:

Postar um comentário