domingo, 13 de fevereiro de 2011

A PRAIA DO COZINHEIRO

Muito já se falou sobre o quão árduo é o trabalho de um cozinheiro, seja ele um chef ou não. Chegar cedo, sair tarde, trabalhar em um ambiente onde a temperatura não raro ultrapassa os cinqüenta graus centígrados e os humores nem sempre são os melhores, conviver com pessoas que têm como material de trabalho facas afiadíssimas e personalidades distintas (pela minha experiência, posso afirmar: nunca conheci um cozinheiro que fosse assim, digamos, uma pessoa normal. Todos temos – e precisamos de - uma pitada de loucura para suportar a pressão).
E mais: trabalhar enquanto os outros estão se divertindo, dar o sangue e o suor (literalmente) para que aquele momento de descontração dos comensais seja um inesquecível momento de prazer. Dia de folga? Só às segundas ou terças-feiras. Feriado prolongado? Sinal de trabalho dobrado. Natal e Ano-Novo? Pode esquecer...Mas se a cozinha é o escritório do cozinheiro, o que faz este em seus momentos de lazer?
Se for um cozinheiro apaixonado por gastronomia (muitos cozinheiros não o são, infelizmente), aproveitará os curtos espaços de folga para fazer uma visita a um local mágico. Não, não estou falando da “Fantástica Fábrica de Chocolate”, tampouco de Nárnia ou o país das maravilhas de Alice. A praia do cozinheiro, o local onde ele realmente se diverte e sente-se uma criança diante de brinquedos sempre novos e de última geração, só poderia ser o Mercado. Assim mesmo, com letra maiúscula. E quanto mais barulhento e confuso, melhor.
Há dez anos morando no Vale do Paraíba, já fui freqüentador assíduo dos Mercados de Campos do Jordão (ingredientes sempre frescos, apesar do local não ser muito atraente aos endinheirados turistas da cidade), Taubaté e São José dos Campos. Até mesmo as cidades menores têm seu Mercado: Cunha, a “Cidade dos Fuscas”, possui um pequeno mercado onde você encontra de tudo (ok, nem tudo...aliás, não muito) para sua cozinha, além dos apetrechos indispensáveis aos cidadãos, como botas, chapéu de vaqueiro, canivetes e facões. Em recente visita a Natividade da Serra, tive a oportunidade de conhecer o Mercado local. Minúsculo, sem muitas opções, mas ainda assim encantador para um gastrônomo.
Mercado de Campos do Jordão - Precisando de reformas...

Mercado de Taubaté - Inaugurado em 1889, cinco dias antes da proclamação da República

O Mercado de São José dos Campos: desde 1921

Como bom paulistano que sou, não posso deixar de citar o Mercado Municipal de São Paulo, este sim um local onde você encontra de tudo, de todas as procedências, todos os ingredientes e produtos, todo o tipo de gente, aromas ainda desconhecidos e sabores inusitados. Famoso por sua arquitetura e pelos lanches (gigantes) de mortadela e pelos pastéis de bacalhau – que realmente valem o passeio -, o Mercado Municipal é muito mais que apenas um lugar para comer. Andar por entre suas barracas, parar para conversar com os vendedores, aproveitar para saber o que há de novo, provar pequenos e deliciosos pedaços de frutas, queijos, frios e o que mais cair em sua mão, isso tudo é um paraíso para os cozinheiros! Não conhece o Mercadão? Não deixe de visitá-lo, você vai se divertir - mesmo não sendo um profissional da cozinha.
O Mercadão de São Paulo à noite: famoso pelos vitrais, arquitetura e quitutes

E, como bom brasileiro que também sou, preciso citar um local que ainda não conheço pessoalmente, mas sua fama compete com a do Mercadão de São Paulo: o Mercado Ver-o-Peso, em Belém, no Pará. Ali estão os sabores da Floresta Amazônica (são mais de duas mil barracas!), comidas típicas daquela região, peixes e frutas desconhecidas no resto do país. Ou você conhece produtos como taperebá, bacuri e uxi? Isso sem falar no açaí, hoje mundialmente famoso e que pode ser encontrado nas mais variadas versões (os moradores da região – entre eles os índios -, por exemplo, consomem o fruto com farinha de mandioca, como acompanhamento para peixes e carnes. Bem diferente, portanto, da versão mais conhecida por nós aqui do Sul e Sudeste, em forma de polpa e consumido com açúcar e granola).
O Ver-o-Peso, em Belém, Pará: construído em 1625!!

Cada um desses locais merece um artigo próprio, cada um apresenta suas particularidades e peculiaridades, cada um é merecedor de sua ilustre visita. Então, se você tem algum amigo cozinheiro, ou se você mesmo é um apaixonado pela gastronomia, já sabe qual programa escolher. E olha que nem falamos das feiras-livres, outra grande atração gastronômica presente em todas as cidades do Brasil e que também merecem uma atenção toda especial – a sua.

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