quarta-feira, 30 de março de 2011

NÃO ACREDITO NO GALO!

Meu vizinho comprou um galo. Alguém deveria avisá-lo dos riscos que este animalzinho corre, já que tem agora um cozinheiro como vizinho. Faz já aproximadamente um mês a primeira vez em que ouvi o galo cantar por essas bandas, então imagino que o bicho deve estar bem grandinho, ou, para um cozinheiro como eu, no ponto!
Nada tenho contra os galos. Adoro galo! Adoro-os cozidos, fritos, empanados, assados inteiros ou em pedaços, grelhados. Também nada tenho contra galos vivos. Afinal, para quem saiu da caótica capital paulista e se refugiou em uma cidade do interior, não poderia haver cena mais bucólica do que despertar ouvindo o galo cantar. O galo, como se sabe, canta ao primeiro raiar do sol.
Mas não esse galo. Deve ser algum problema de fuso, sei lá. Três e meia da manhã. Este é o horário que meu vizinho-galo adotou como a melhor hora para seu show. E o bicho parece um relógio suíço, de tão pontual. Não acredito mais no galo! O galo mente! Pensei em ser sutil com meu vizinho, e convidá-lo para almoçar em casa. No cardápio, claro, frango. Será que ele entenderia a mensagem?
O menu pode ser multicultural, afinal o frango está presente nas mesas de praticamente todo o mundo! Do extremo oriente, o delicioso frango agridoce, que pode ou não ser empanado. Continuando na Ásia, o frango com curry, sensacional! Da Europa, especificamente da França, o Coq au Vin, clássico! E há adaptações, como o strogonoff de frango. Espetinhos de frango, hambúrguer de frango, almôndegas de frango, recheio de frango com ricota para massas, miúdos de frango...a lista não pára, são milhares de receitas e modos diferentes de preparar um suculento frango. De nossas roças, o saboroso frango ao molho pardo (ou galinha de cabidela), preparado com o sangue do animal, o que lhe confere um sabor inigualável! Não faça essa cara de nojo, experimente!
O molho pardo dá cor e sabor inigualáveis ao frango
Aqui na rua, por uma dessas coincidências, não sou o único cozinheiro, o que não me deixaria como único suspeito se algo acontecesse com o bicho. Minha mulher é chef de um ótimo restaurante da cidade, a casa à minha esquerda é moradia de outro casal de cozinheiros e a casa logo à minha direita é habitada por um casal formado por uma senhora nordestina e um senhor português (o Galo de Barcelos, você sabe, é símbolo - não oficial - de Portugal), que faz aquele doce maravilhoso, o Pastel de Santa Clara. Receita original de sua família, guardada apenas na memória dele. E, mais a direita, três casas além, mora a mãe de um ex-chef de cozinha de um prestigiado hotel de uma rede internacional. Como se vê, muitos suspeitos para um crime ainda não cometido.
O Galo de Barcelos simboliza honestidade, fé e sorte
Fui fazer uma visita ao meu vizinho, mais para conhecer o galo e seu local de cantorias do que propriamente uma visita de cortesia. E, quem sabe, poderia deixar uma portinha aberta por onde o frango escapasse mundo afora. Quem atendeu a porta foi sua filha, de seis anos. Perguntei pelo pai, que não estava em casa nesta hora. Mas o frango estava!
_Quer conhecer meu bichinho, tio? – disse a menininha, com aquela inocência que só as crianças têm.
_Claro! – respondi eu, salivando...
Fomos até o quintal dos fundos, o palco de meu vizinho-galo.
_Este é o Zico, homenagem a um jogador de futebol que meu pai disse que jogava mais que o Ronaldo Fenômeno! Era o apelido dele, o Galinho de Quintino, o senhor conheceu? – a menina sorria com o galo nos braços.
Pronto! Estavam encerradas minhas pretensões de cozinhar aquele galo. Afinal, depois de dar nome ao bicho, como seria possível degolá-lo, depená-lo e servi-lo? E era o Zico, para complicar ainda mais. Se fosse há 25 anos, quando o jogador Zico perdeu aquele pênalti contra a França na copa de 1986, talvez eu não tivesse tanto pudor. Mas hoje, passados tantos anos...
Sorte minha que o galo cantor não é o único artista da região. Também bastante pontuais, dezenas de bem-te-vis começam a cantarolar às seis e meia da manhã, em nossa janela. E meu cérebro já está regulado: quando ouve o galo cantar, simplesmente ignora. Meu cérebro também não acredita mais no galo. Já o canto dos pássaros, bem mais bonito e suave, por sinal, indica que o dia começou. Fico aqui pensando...será que tenho em meus livros alguma receita de bem-te-vi?!? Já comi muito frango à passarinho pelos bares Brasil afora, mas frango com passarinho, seria a primeira vez, hehehe...

2 comentários:

  1. Coitadinho do Zico......nem pense em fritar o animalzinho. Vai traumatizar a menina.
    Pq será que ele canta tao cedo???
    Seus posts são muito bem escritos e divertidos.

    ResponderExcluir
  2. Oi Andrea...não vou frit´-lo não...prefiro assado!! Brincadeirinha, rsrs....
    Obrigado pelos elogios!!
    Beijos!

    ResponderExcluir